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| - “A verdadeira Giorgia Meloni”. A dualidade tem uma razão de ser: Meloni, líder dos “Irmãos de Itália”, o partido que mais se destacou nas eleições de ontem, recusa agora ser apelidada de “fascista”, descartando as raízes que formam o seu próprio movimento, nomeadamente o conservadorismo, o anti-feminismo e a xenofobia. Uma coisa é certa: a aparente moderação de Giorgia Meloni deu frutos, frutos esses que a própria acaba de colher, estando a dias de se tornar a primeira primeira-ministra de Itália.
Sobre Benito Mussolini, a líder de extrema-direita também parece ter mudado de opinião – ou pelo menos moderado. Aliás, é sobre isso que versam as mais recentes publicações nas redes sociais. O vídeo que tem circulado nas últimas horas, com uma Meloni ainda jovem a elogiar uma das figuras-chave na criação do fascismo, é apenas um excerto de uma reportagem do canal francês “France 3”, que chegou a público a 20 de abril de 1996, um dia antes das eleições que colocaram frente a frente a direita de Silvio Berlusconi e a esquerda de Romano Prodi (que acabou por se tornar primeiro-ministro nesse ano).
No excerto difundido nas redes sociais, já depois de ser certa a vitória dos “Irmãos de Itália” e da coligação que lideram, Giorgia Meloni é descrita como uma militante ativa do “Aliança Nacional”, partido fundado em 1995, sucessor do Movimento Social Italiano, que recuperava grande parte dos ideais neofascistas.
“Eu acredito que Mussolini foi um bom político. Tudo o que ele fez, fez por Itália. Não conseguimos encontrar isso nos políticos que tivemos nos últimos 50 anos”
A entrevista é feita em francês, embora Meloni deixe escapar alguns termos em italiano. Nela, então com 19 anos, Meloni explica que Mussolini era um bom político para Itália e é a própria televisão francesa que avança que esta é uma ideia partilhada por 61% dos militantes da Aliança Nacional. E até pela mãe de Giorgia, Anna Paratore, ex-militante do partido fascista Movimento Social Italiano e, uma vez extinto, da Aliança Nacional.
“Eu acredito que Mussolini foi um bom político. Tudo o que ele fez, fez por Itália. Não conseguimos encontrar isso nos políticos que tivemos nos últimos 50 anos”, afirmou Meloni, que à data liderava a secção jovem da Aliança Nacional em Garbatella, um bairro de Roma.
Este ano, porém, com as eleições à porta, Giorgia Meloni fez campanha com outros temas, outras prioridades e, sobretudo, outras abordagens. E se em 1996 Mussolini era um exemplo para Itália, em agosto deste ano parece ser apenas um assunto a não mencionar. Ou, mais, a criticar:
“Há décadas que a direita italiana relegou o fascismo à sua história e, inequivocamente, condenou a privação da democracia e as infames leis anti-judaicas. Também condenámos inequivocamente o nazismo e o comunismo, sendo este último a única ideologia totalitária do século XX ainda no poder em alguns países.”
Giorgia Meloni, agora com 45 anos, está prestes a tornar-se a nova primeira-ministra italiana. Com um discurso eurocético e anti-imigração, “fascismo” é palavra que não quer ver associada ao seu percurso: um desejo difícil para alguém que viveu de mão dada com movimentos ditatoriais, que sustenta as suas crenças na religião e para quem a natalidade é bandeira principal.
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