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| - “‘O José Sócrates é um grande líder e um grande primeiro-ministro‘”. Aliás, António Costa só poderia ser número dois de um grande qualquer coisa. Curioso que alguém que se enganou de forma tão profunda sobre José Sócrates seja agora ele próprio primeiro-ministro. O cego que nada viu e que de nada desconfiou tem agora as chaves do cofre. Podemos dormir descansados, naturalmente”, ironiza-se no texto de uma publicação da página “Direita Política”, datada de 15 de outubro de 2017.
Apesar de já ser antiga, a publicação em causa ressurgiu esta semana nas redes sociais e está a tornar-se viral. Sobretudo através do meme que a ilustra, atribuindo a Costa (atual primeiro-ministro) duas citações: “Sócrates é um grande líder“; “Tenho orgulho do passado de Sócrates“. Estas afirmações são verdadeiras, ou trata-se de desinformação?
Importa começar por salientar que não há registo de que Costa tenha proferido a seguinte afirmação: “O José Sócrates é um grande líder e um grande primeiro-ministro”. No âmbito do meme, porém, a afirmação é dividida em duas frases distintas. E procurando por essas duas frases, proferidas em diferentes momentos, já encontramos resultados.
“Eu participo, porque o José Sócrates é um grande líder e um grande primeiro-ministro. E o país precisa, nesta fase de crise, de boas lideranças. Lideranças que tenham coragem de enfrentar os problemas e que não chorem sobre os problemas. Ele já venceu uma crise, ele vai vencer certamente esta outra crise”, declarou Costa no dia 18 de julho de 2009, em plena pré-campanha para as eleições legislativas que viriam a resultar na formação de um segundo Governo do PS liderado por Sócrates.
Nessa altura, Costa era presidente da Câmara Municipal de Lisboa há cerca de dois anos. A gravação em vídeo desta declaração de apoio a Sócrates está arquivada no canal oficial do PS no YouTube, podendo ainda hoje ser visualizada. Em suma, é verdade que Costa disse que “Sócrates é um grande líder“, mas afirmou-o num determinado momento e contexto (julho de 2009, pré-campanha para as eleições legislativas, etc.) que não está indicado na publicação em análise.
“Eu participo, porque o José Sócrates é um grande líder e um grande primeiro-ministro. E o país precisa, nesta fase de crise, de boas lideranças. Lideranças que tenham coragem de enfrentar os problemas e que não chorem sobre os problemas. Ele já venceu uma crise, ele vai vencer certamente esta outra crise”, declarou Costa no dia 18 de julho de 2009.
Quanto à segunda frase, também isolada, não há registo de que Costa alguma vez a tenha proferido. Ou pelo menos dessa forma, exatamente. Não obstante, em 2014, na campanha das eleições primárias para a liderança do PS que disputou contra António José Seguro (o então secretário-geral do PS), Costa disse que “quando tentamos fingir que o passado não existe, nem conseguimos assumir o bom, nem conseguimos condenar o mau. E havia coisas em que o PS se devia ter demarcado do Governo, do nosso último Governo, porque cometeu naturalmente erros. E deve aliás fazer uma análise fria, para poder dar confiança às pessoas que aprendemos com os erros que não os repetimos”. Ora, Costa distanciava-se assim de Seguro no que concerne à forma de tratar o passado de Sócrates, mas não assumia ter “orgulho do passado de Sócrates”.
Há contudo uma outra declaração de Costa que poderá eventualmente suscitar dúvidas. Também em 2014, em debate com Seguro na SIC, Costa lançou a seguinte crítica ao seu adversário: “Eu sei que António José Seguro acaba por gastar mais energia na oposição aos anteriores governos do PS que ao atual Governo“. Mais uma vez, Costa marcava a diferença em relação a Seguro na forma de lidar com o legado de Sócrates, mas também nesta situação não disse ter “orgulho” desse passado recente. Tanto esta como a anterior citação de Costa estão registadas em vídeo (pode conferir aqui).
Em conclusão, Costa disse que “Sócrates é um grande líder” (em determinado momento e contexto), isso é verdade. Mas não disse que tem “orgulho do passado de Sócrates“, embora tenha criticado Seguro (nas eleições primárias para a liderança do PS, em 2014) pela forma como o então secretário-geral lidava com o legado de Sócrates.
Avaliação do Polígrafo:
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