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| - “O que é pior, porém, é que há uma patente e um trabalho feito no MIT [Instituto de Tecnologia de Massachusetts] para criar uma tinta, cuja patente se chama Luciferase. Debaixo de luz, essa tinta permitiria ver quem foi vacinado e quem não foi. O acordo é armazenar as informações biométricas. Porque esta vacina terá nanoparticulas, partículas nanocristialinas, que são como pequenos robôs, pequenas antenas, que terão a capacidade de aceder a esses dados biométricos. Não apenas ao registo de vacinação, mas também à respiração, à frequência cardíaca, à atividade, à atividade sexual, aos medicamentos que se está tomar, aos locais para onde se viajou, todos esses detalhes… Depois, esses dados ficarão armazenados numa nuvem”, pode ouvir-se a ginecologista dizer durante o vídeo com cerca de 4 minutos.
Logo de seguida, Northrup explica como essas informações seriam alegadamente usadas para criar um sistema económico baseado em dinheiro digital: “O que é ainda mais preocupante é que, a 26 de março de 2020, a Fundação Bill e Melinda Gates solicitou uma patente – com o número 060606 – para obter esses dados biométricos, fornecer a quem toma a vacina um código de barras e conectar as pessoas à criptomoeda, tornado as pessoas literalmente escravas do sistema. Seria o fim da privacidade, o fim da liberdade”.
O vídeo, tornado viral nas redes sociais, tem sido difundido por muitos negacionistas da Covid-19. “Oiçam o que esta médica tem a dizer acerca das vacinas que querem impingir ao povo. Vejam até ao fim”, apela-se numa dessas publicações.
Mas será que existem evidências que comprovem as teorias apresentadas por Christiane Northrup?
Foi em 2019 que o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT, na sigla em inglês) desenvolveu a chamada tecnologia de luciferase (uma enzima e não uma tinta como se diz no vídeo em análise), cujo objetivo era encontrar uma nova forma de registar o histórico de vacinação de um paciente. Ou seja, como se explica no site do MIT, “armazenar os dados num padrão de corante, invisível a olho nu, que é administrado sob a pele ao mesmo tempo que a vacina”. Esta medida, de acordo com os investigadores, seria uma ferramenta útil principalmente em países africanos em desenvolvimento onde os bancos de dados eletrónicos não são comuns e onde os boletins de vacinas em papel não são uma alternativa.
Como explica a plataforma de verificação de factos Boatos.org, não existe qualquer informação que indique que esta tecnologia está a ser implementada nas vacinas contra a Covid-19. Recorde-se também que, de acordo com a Comissão Nacional de Proteção de Dados, os dados biométricos são recolhidos normalmente através da “impressão digital, geometria da mão ou da face, padrão da íris ou reconhecimento da retina”. Ou seja, não incluem o recurso a nenhum implante.
Os dados disponibilizados pelo site do MIT confirmam que a pesquisa relacionada com esta tecnologia teve a Fundação Bill e Melinda Gates como um dos financiadores. No entanto, a informação difundida por Northrup relativa a uma alegada patente 060606 relacionada com as vacinas contra o novo coronavírus que iria permitir recolher dados biométricos e trocar os mesmos por criptomoedas é falsa.
Segundo o portal Espacenet, desenvolvido pelo Instituto Europeu de Patentes, a Microsoft Technology Licensing, subsidiária da Microsoft co-fundada por Bill Gates, possui uma patente cujo número é WO2020060606A1 e não 060606 (uma variação de 666 que é associada ao “número da besta” bíblica). De acordo com a descrição da patente, o objetivo é conceder criptomoedas a pessoas que realizem uma atividade física predefinida. O cumprimento da “missão” seria verificado através de sensores colocados no dispositivo dos usuários. Em momento algum existem referências a nanopartículas ou Covid-19.
ADN, 5G e taxa de legalidade: outras teorias falsas
A mensagem de Christiane Northrup não propaga apenas estas fake news. A médica norte-americana também garantiu que as vacinas contra o novo coronavírus conseguem alterar o ADN, uma informação já desmentida pelo Polígrafo, visto que as mesmas não promovem alterações no núcleo da célula.
“O mRNA pode ser usado para transportar informação genética exógena para dentro das células com o objetivo final de desencadear uma resposta imune contra a proteína codificada”, explica-se em tese de mestrado sobre estas vacinas, no âmbito de “perspetivas de utilização contra o cancro, apresentada à Faculdade de Farmácia da Universidade de Coimbra por João Rego.
A técnica consiste em inserir uma parte dos genes de um determinado patógeno em plasmídeos, moléculas de ácido ribonucleico presentes nas bactérias. Estes plasmídeos são injetados no corpo humano e entram nas células, onde reproduzem partes do agente causador da doença – neste caso, o novo coronvírus – para obter uma resposta imunológica do organismo. Ou seja, o código genético que é modificado é o de uma molécula de uma bactéria e não o de um ser humano.
Segundo a OMS, esta abordagem oferece algumas vantagens em comparação com métodos mais tradicionais. Desde logo porque eliminam a necessidade de inserir qualquer agente infeccioso, como um vírus enfraquecido, no corpo humano. E também são mais fáceis de produzir em larga escala.
Igualmente falsa é a alegação de que as vacinas vão “transformar” os corpos dos pacientes que as tomarem em antenas de 5G, tecnologia que tem sido apontada por muitos negacionistas da Covid-19 como sendo responsável pelo surgimento da doença. Como o Polígrafo já explicou, a suposta ligação entre a Covid-19 e a rede 5G não tem fundamentação factual. Esta teoria de conspiração foi refutada por vários cientistas, tais como Simon Clarke, professor de microbiologia celular na Universidade de Reading, Reino Unido, que em declarações à BBC garantiu que a rede 5G ou as ondas de rádio e electromagnéticas não afetam o sistema imunitário dos humanos (outra variante muito propalada desta teoria de conspiração).
Igualmente enganadora, segundo a avaliação feita pelo Polígrafo, era a teoria que assegurava que a rede 5G era a verdadeira causa das mortes atribuídas aos SARS-CoV-2. Esta tecnologia funciona através de ondas de rádio que fazem parte do espectro eletromagnético. Utilizam um tipo de radiação não-ionizante, o que significa que não prejudica o ADN dentro das células.
No final dos quatro minutos de vídeo, Christiane Northrup assegura ainda que “99,9% dos infectados recuperam” da infeção provocada pelo novo coronavírus.
Dados que são contrariados pelas estatísticas oficiais: segundo a Organização Mundial da Saúde, às 15h37 (hora de Portugal) desta quinta-feira, 3 de dezembro, a pandemia de Covid-19 já provocara pelo menos 1 488 120 mortes em 63 965 092 casos confirmados. Ou seja, quase 62,5 milhões de pessoas recuperaram da infeção, cerca de 97,7% do total de infetados.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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