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| - “Primeiro, considere que a muito autoritária Cochrane Colaboration reconhece que existem muitos vírus da gripe diferentes e que não são, de facto, a influenza A – contra as quais as vacinas contra a gripe são direcionadas -, mas que podem contribuir para sintomas idênticos aos atribuídos à gripe A”, lê-se no início do extenso artigo, partilhado por centenas de pessoas nas redes sociais.
Logo a seguir apresenta-se uma citação da “muito autoritária” Cochrane Colaboration: “Mais de 200 vírus causam gripe e doenças semelhantes à gripe e que produzem os mesmos sintomas (febre, dor de cabeça, dores, tosse e corrimento nasal). Sem exames laboratoriais, os médicos não conseguem distinguir as duas doenças. Ambas duram dias e raramente levam à morte ou doença grave. Na melhor das hipóteses, as vacinas podem ser eficazes contra apenas a influenza A e B que representam cerca de 10% de todos os vírus circulantes”.
“Isso faz com que um quadro de complexidade que mina poderosamente as políticas de saúde que pressupõem que a vacinação é equivalente à imunidade legítima e, por implicação, exige que o rebanho participe coletivamente no ritual das campanhas de vacinação em massa como uma questão de responsabilidade social e de necessidade”, acresenta-se no texto.
Confirma-se que “mais de 200 vírus causam gripe” e vacinas apenas são eficazes contra “cerca de 10%”?
Questionado pelo Polígrafo, Celso Cunha, virologista e professor no Instituto de Higiene e Medicina Tropical da Universidade Nova de Lisboa, desmonta tal teoria e sublinha desde logo que “existem quatro géneros de vírus da gripe, A, B, C e D”.
“O género A é o que apresenta maior variabilidade e patogenicidade para o homem, embora esteja presente noutros vertebrados. É o causador das pandemias gripais. Existem dezenas de combinações possíveis das proteínas H e N (hemaglutinina e neuraminidase) responsáveis, entre outras coisas, pela entrada destes vírus nas células e contra as quais são produzidas as vacinas”, explica o virologista.
“O género B é menos patogénico e do qual apenas foi descrito um serotipo [subdivisão em função da sua constituição antigénica]. O género C infeta também o homem, mas é muito menos frequente, embora possa causar uma doença relativa grave. Finalmente, o género D que foi descrito já na primeira década deste século e parece não infetar o homem”, descreve.
Segundo Celso Cunha, “as vacinas são produzidas contra os vírus do género A, mais frequente, com maior variabilidade genética e causador de sintomas mais adversos e com desfecho, por vezes, fatal em pessoas mais debilitadas ou com comorbilidades relevantes“.
Os outros vírus que causam doenças respiratórias “são em muito maior número, globalmente, mas os sintomas e patologias que provocam são indubitavelmente menos graves: vulgares constipações, geralmente”. No entanto, “a excepção são estes coronavírus mais recentes como o SARS, o MERS e agora o SARS-Cov-2”, porque “geralmente provocam patologias muito mais graves do que a gripe A, com taxas de mortalidade muito superiores e que parecem infetar vários órgãos, nomeadamente o tracto respiratório superior e inferior, o que não sucede na gripe que apenas infeta o superior”, conclui.
Em suma, o artigo em causa difunde falsidades. Existem apenas quatro géneros de vírus da gripe e a vacina atua essencialmente sobre o género A que é aquele que apresenta “maior variabilidade e patogenicidade” para o ser humano.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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