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| - “Em 2021, o grupo ‘habitação, despesas com água, eletricidade, gás e outros combustíveis’ representava 32% das despesas de um agregado familiar, para além dos 14,3% das despesas com produtos alimentares e bebidas não alcoólicas e os 14,1% dos transportes”, lê-se num post divulgado no Facebook a 14 de março.
“Nestas condições e seguindo a evolução por compartimentos da inflação de 14,98% para os produtos energéticos, de 9,2% para os transportes ou ainda de 3,7% para os produtos alimentares não transformados, a inflação para um agregado familiar com um rendimento situado na média em Portugal é neste momento de 7,86%“, continua o autor do texto que lembra ainda que, “tendo em conta o rendimento médio mensal disponível das famílias em 2020 de 2.501 euros, a erosão do poder de compra provocada pela inflação ronda os 182 euros mensais“, o que resulta numa “anulação dos ganhos obtidos desde 2018“.
Um gráfico do Instituto Nacional de Estatística (INE), originalmente publicado a 10 de março de 2022 e com dados relativos ao mês de fevereiro do mesmo ano, está também incluído na publicação e revela que o Índice Harmonizado de Preços no Consumidor (IHPC) português “apresentou uma variação homóloga de 4,4%, taxa superior em 1,0 p.p. à do mês anterior e inferior em 1,4 pontos percentuais (p.p.) ao valor estimado pelo Eurostat para a área do Euro (em janeiro, esta diferença foi de 1,7 p.p.)”.
São vários os números em destaque no post, mas estarão todos corretos? Olhando para a distribuição da despesa total anual média por agregado, em euros, que tem em conta a habitação, água, eletricidade, gás e outros combustíveis, os últimos dados são relativos a 2015 e 2016. Isto porque o relatório divulgado pelo INE – “Inquérito às Despesas das Famílias” – é publicado quinquenalmente. Os dados de 2020/2021 deverão ser divulgados ainda este ano, se seguirem as datas das últimas publicações.
Ora, isto condena desde logo a afirmação destacada. Não, “o grupo ‘habitação, despesas com água, eletricidade, gás e outros combustíveis'”, em 2021, não “representava 32% das despesas de um agregado familiar, para além dos 14,3% das despesas com produtos alimentares e bebidas não alcoólicas e os 14,1% dos transportes”. Na verdade, estas são as percentagens relativas a 2015 e 2016.
Nesses dois anos, “a despesa total anual média dos agregados familiares foi de 20.363 euros, menos 28 euros do que a despesa média obtida em 2010/2011 (20.391 euros). Em conjunto, as três principais componentes da despesa (habitação, alimentação e transportes) concentravam 60,3% da despesa total anual média das famílias residentes em Portugal em 2015/2016, ou seja, mais 3,3 pontos percentuais (p.p.) relativamente ao início da década (57,0%)”. Durante o mesmo período, a alimentação e as bebidas não alcoólicas levavam 14,3% do rendimento dos agregados (2.914 euros), enquanto que os gastos em transportes perfaziam 14,1% da despesa (2.863 euros), tal como indica a publicação.
Próximo valor: “Evolução por compartimentos da inflação de 14,98% para os produtos energéticos, de 9,2% para os transportes ou ainda de 3,7% para os produtos alimentares não transformados.” Tal como já vimos, a 10 de março o INE divulgava uma estimativa sobre a taxa de variação homóloga do IPC em fevereiro deste ano.
De acordo com o INE, a “variação homóloga do Índice de Preços no Consumidor foi de 4,2% em fevereiro de 2022, taxa superior em 0,9 pontos percentuais (p.p.) à observada no mês anterior. O indicador de inflação subjacente (índice total excluindo produtos alimentares não transformados e energéticos) também acelerou, registando uma variação homóloga de 3,2% (2,4% em janeiro)”.
Quanto aos produtos energéticos, no documento publicado pelo INE confirma-se que a variação homóloga dos produtos energéticos foi de 14,98%, mais 2,8 pontos percentuais do que no mês de janeiro (12,15%). Por sua vez, o índice referente aos transportes acelerou para 8,5% (6,24% em janeiro). No que respeita aos produtos alimentares não transformados, o índice subiu mesmo para os 3,74%, que compara com 3,38% em janeiro deste ano.
Em suma, a publicação em causa condensa dados atuais com dados antigos e descontextualizados. Trata-se de uma análise pouco precisa e cujo resultado não se pode avaliar tendo em conta as componentes falsas e enganadoras da mesma. Por isso, atribuímos um “Impreciso” ao conjunto de alegações.
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Avaliação do Polígrafo:
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