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| - “Há um ano, sabíamos bem quais eram os riscos da maioria absoluta: prepotência, conluio com os poderes mais opacos deste país. Mas não imaginávamos a que ponto chegaria a maldição que é o poder absoluto“, afirmou Mariana Mortágua, candidata à liderança do Bloco de Esquerda, ao discursar hoje na XIII Convenção do partido, em Lisboa.
“Não me interessa agora comentar os repetidos tiros no pé do Governo. Só vos digo que este espetáculo horroroso é o desfecho de uma sucessão ininterrupta de irresponsabilidades. A primeira irresponsabilidade foi a crise política para bloquear um Orçamento com mudanças sensatas, preferindo aceitar a degradação do SNS [Serviço Nacional de Saúde]”, sublinhou a mais provável sucessora de Catarina Martins no cargo de coordenadora dos bloquistas.
“Mais de 1,7 milhões de utentes sem médico de família. Pois terminou esta semana um concurso para essa especialidade, em que sete em cada 10 vagas ficaram por preencher. O Governo está a condenar o SNS ao estrangulamento”, acusou.
No que respeita aos médicos de família, a deputada bloquista tem razão?
De facto, segundo os últimos dados disponíveis no portal “Transparência” do Serviço Nacional de Saúde (SNS), o número de utentes inscritos em Cuidados de Saúde Primários sem médico de família atribuído voltou a aumentar para 1.678.226 no final do mês de abril, mais 30.519 por opção, perfazendo assim um total de 1.708.745 utentes.
Há exatamente um ano, em abril de 2022, registavam-se 1.331.555 utentes inscritos sem médico de família atribuído.
O número de utentes inscritos em Cuidados de Saúde Primários também tem aumentado, importa ressalvar, de 10.509.726 em abril de 2022 para 10.593.853 em abril de 2023. Mas não o suficiente para explicar o nível mais elevado de crescimento do número de utentes sem médico de família.
Prova disso é que a proporção de utentes sem médico de família no número total de utentes inscritos também aumentou: de cerca de 12,7% em abril de 2022 para 16,1% em abril de 2023.
Quanto ao último concurso de acesso à especialidade de Medicina Geral e Familiar no SNS, o Ministério da Saúde anunciou no dia 21 de abril a disponibilização de um total 978 vagas no âmbito do Concurso Nacional para Medicina Geral e Familiar.
Entretanto, no dia 26 de maio, a Direção Executiva do SNS comunicou que “foram colocados 314 médicos de família no âmbito do concurso de recrutamento e seleção de médicos da área de Medicina Geral e Familiar, que tornará possível atribuir um médico de família/equipa de saúde familiar a cerca de meio milhão de utentes”.
“Foram submetidas 393 candidaturas válidas, das quais 304 pertencentes a candidatos que concluíram a especialidade na 1.ª época de 2023 (dos 307 candidatos que efetuaram a formação no SNS, apenas três não submeteram candidatura, o que significa uma adesão massiva ao processo) e 89 a outras épocas de formação, ou seja, candidatos que se encontravam fora do SNS, mas que pretendiam voltar a trabalhar no serviço público”, detalhou a Direção Executiva do SNS.
Ou seja, do total de 978 vagas, apenas 314 foram preenchidas, cerca de 32,1%. Uma percentagem muito próxima da que foi indicada por Mortágua, segundo a qual “7 em cada 10 vagas ficaram por preencher”.
Aplicamos assim o selo de “Verdadeiro” nas duas alegações.
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Avaliação do Polígrafo:
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