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| - “De acordo com um estudo norte-americano, o abuso de ivermectina pode causar esterilização em até 85% dos homens. Vai acabar a crise sanitária e começar a crise demográfica daqui uns anos”, alerta-se numa publicação no Facebook, de 9 de setembro.
O autor partilha ainda uma captura de ecrã de uma alegada notícia escrita em inglês: “Ivermectin causes sterilization in 85 percent of men, study finds” (em português, “Ivermectina causa infertilidade em 85% dos homens”).
A alegação tem fundamento?
O “PolitiFact“, jornal de verificação de factos norte-americano, classificou a informação como falsa. De acordo com o fact-check, o número “85%” surge num estudo de 2011 realizado na Nigéria no qual foram analisados os efeitos da ivermectina na fertilidade de homens com oncocercose, uma doença causada pelo parasita Onchocerca volvulus, que causa comichão, caroços sob a pele e até cegueira.
Os investigadores analisaram 385 homens com a doença e, mais tarde, escolheram apenas 37 para participar no estudo, porque “as suas contagens de esperma eram normais, ao contrário dos outros que apresentavam contagens de espermatozóides muito baixas”. O estudo decorreu durante 11 meses, nos quais os participantes foram tratados com ivermectina. Durante a investigação, os cientistas descobriram uma “redução significante de esperma e mobilidade dos espermatozóides nos pacientes testados”.
O estudo decorreu durante 11 meses, nos quais os participantes foram tratados com ivermectina. Durante a investigação, os cientistas descobriram uma “redução significante de esperma e mobilidade dos espermatozóides nos pacientes testados”.
Contudo, o estudo apresenta alguns problemas. Apesar de ter começado com 385 homens, a investigação terminou apenas com 37 participantes, ou seja, acabou por ter uma amostra demasiado pequena para serem retiradas conclusões concretas sobre o impacto do fármaco na fertilidade. Outro problema da investigação era a inexistência de um grupo de controlo que avaliasse se os problemas de fertilidade estavam relacionados com a toma de ivermectina ou com outros fatores como a oncocercose.
Além disso, o valor “85%” também não foi a conclusão do estudo. Existiu apenas uma menção na introdução do artigo, como descobertas de um outro relatório em que homens foram testados e descobriram ter “desenvolvido várias formas e graus de disfunções no esperma”. A Food and Drug Administration (FDA) identificou alguns efeitos secundários no medicamento, como náuseas, vómitos e tonturas, mas a infertilidade não está incluída.
A Food and Drug Administration (FDA) identificou alguns efeitos secundários no medicamento, como náuseas, vómitos e tonturas, mas a infertilidade não está incluída.
A ivermectina tem sido um dos fármacos que mais polémica causou desde o início da pandemia da Covid-19. A Organização Mundial da Saúde (OMS), a Autoridade Europeia do Medicamento (EMA) e a FDA dos Estados Unidos desaconselharam o fármaco para tratar ou prevenir a infeção pelo vírus SARS-CoV-2. Ainda assim, várias pessoas, incluindo personalidades políticas internacionais como Jair Bolsonaro, defenderam a utilização.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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