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| - É enganoso e possui falhas metodológicas o texto do cardiologista americano Peter McCullough que afirma que as vacinas contra a Covid-19 têm baixa eficácia e causam excesso de mortalidade e contaminação do DNA. Especialistas consultados pelo Aos Fatos explicaram que, além de usar dados inconsistentes, o documento foi publicado em um blog e não passou por avaliação de pares ou outros mecanismos presentes em revistas científicas para garantir a qualidade editorial.
Publicações com o conteúdo enganoso acumulavam 100 mil curtidas no Instagram até a tarde desta quinta-feira (30).
Vacina contra Covid-19 está proibida para seres humanos! Revisão abrangente exige a retirada de TODAS as vacinas contra a COVID-19 do mercado
Um texto opinativo que tem sido compartilhado nas redes engana ao afirmar que as vacinas contra a Covid-19 provocaram “mortalidade excessiva, eficácia negativa e contaminação do DNA”. Especialistas consultados pelo Aos Fatos afirmaram que o documento apresenta inconsistências metodológicas e não foi publicado em um periódico científico.
O documento que viralizou nas redes por meio de perfis negacionistas foi produzido pelo cardiologista Peter McCullough, conhecido por disseminar desinformação sobre saúde nos Estados Unidos. Em 2022, Aos Fatos desmentiu outra declaração enganosa de McCullough sobre o total de casos de miocardite causados pelos imunizantes contra o coronavírus.
Especialistas consultados pela reportagem apontaram que o texto foi publicado em um blog que não é indexado a bancos de artigos científicos. O corpo editorial do site inclui o virologista francês Didier Raoult, que mentiu sobre a eficácia no uso de cloroquina no tratamento da Covid-19.
De acordo com a doutora em biociências Laura Marise, responsável pelo canal Nunca vi 1 Cientista, o texto faz correlações aleatórias entre dados e usa uma estratégia chamada cherry-picking, usada para descrever situações em que o pesquisador usa “um pedacinho de uma informação real e a descontextualiza ou distorce para caber na narrativa que se quer construir”.
A professora de biossegurança da UFCSPA (Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre) Melissa Markoski ressalta ainda que o artigo “apresenta como referência fontes políticas e grupos ativistas, ignorando estudos revisados por pares que comprovam os benefícios das vacinas”. O texto de McCullough não apresenta ensaios clínicos revisados por pares e publicados em periódicos renomados.
O virologista Flavio da Fonseca, do Departamento de Microbiologia da UFMG, pontuou que o artigo engana ao afirmar que estudos sobre vacinas excluíram crianças, grávidas e imunodeprimidos para focar em sintomas leves e que o imunizante não ajudou na redução de hospitalização.
Evidências científicas robustas mostram que as vacinas contra a Covid-19 são eficazes e ajudam a reduzir as chances de se desenvolver um quadro grave da doença. Um estudo publicado na revista Lancet em dezembro do ano passado, por exemplo, mostrou que, em um período de seis meses, a imunização reduziu para menos da metade a chance de pacientes com a doença serem hospitalizados.
No artigo enganoso, McCullough também mente ao dizer que as vacinas causam a contaminação do DNA. De acordo com Melissa Markoski, agências reguladoras já analisaram e descartaram qualquer risco relevante. “O suposto ‘risco de integração genética’ não tem embasamento científico”, ela conclui.
O caminho da apuração
Aos Fatos procurou a origem do texto que circula nas redes e verificou que ele foi publicado em um blog, e não em um periódico científico. A reportagem enviou então o artigo a especialistas, que apontaram inconsistências nos achados.
Por fim, consultamos órgãos de saúde brasileiros e internacionais para verificar o que diziam as evidências científicas mais robustas sobre a eficácia das vacinas contra a Covid-19.
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