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| - O desenvolvimento do projeto industrial de hidrogénio foi um dos principais temas do debate sobre o Estado da Nação, na passada sexta-feira, e dominou as primeiras intervenções que colocaram em confronto o primeiro-ministro, António Costa, e o líder do PSD, Rui Rio.
O social-democrata pediu garantias de que não haverá “mais ‘negócios da China‘” no investimento em produção de hidrogénio, que classificou como um “projeto extremamente perigoso“. Na resposta, António Costa assegurou que Portugal terá “uma posição liderante” na produção de hidrogénio verde na Europa porque o país tem “condições naturais para o fazer”.
Na mesma intervenção, Costa afirmou que “54% da energia elétrica que consumimos já é assegurada através de fontes renováveis”, sublinhando depois que este cenário “não acontece em mais nenhum país europeu”.
Esta alegação do primeiro-ministro durante o debate do Estado da Nação tem sustentação factual?
O facto é que os dados estatísticos mais recentes do Eurostat desmentem António Costa. Em 2018, Portugal registava 50,3% da eletricidade proveniente de energias renováveis. Em 2019, de acordo com dados publicados pela REN, essa percentagem aumentou para 51%, mas permanece distante dos valores apresentados pelo primeiro-ministro e o mesmo se aplica à suposta liderança europeia de Portugal neste setor.
Os números indicam que Portugal está muito longe da Islândia, da Albânia e da Noruega. Na Islândia e na Albânia, toda a eletricidade tem origem em energias renováveis. A Noruega está muito perto desses valores, com 98% de toda a eletricidade resultante de energias renováveis.
Mesmo que Costa se referisse apenas aos países que pertencem à União Europeia, ainda assim não teria razão. Os dados mais recentes mostram que a Áustria (com 73%), a Suécia (com 66%), a Dinamarca (com 62%) e a Letónia (com 53%) estão à frente de Portugal.
Contactado pelo Polígrafo, o gabinete do líder do Executivo sublinha que Costa se baseou nos dados da Direção-Geral de Energia e Geologia para avançar com os 54% do consumo elétrico proveniente de energias renováveis.
Além disso, explica a mesma fonte, “segundo os dados diários da Wind Europe, entre novembro e dezembro Portugal foi durante 19 dias (não consecutivos) nº 1 em integração de eólica na geração de eletricidade na Europa” – seriam estes os números a que o chefe do Governo se referia. O gabinete de António Costa acrescenta que, “já em 202o”, o mesmo aconteceu “em 11 dias, entre março e abril”.
Segundo o esclarecimento do gabinete do primeiro-ministro, este baseou-se em dados da Direção-Geral de Energia e Geologia e da Wind Europe para alegar que Portugal é o país europeu com maior consumo elétrico proveniente de energias renováveis. Na declaração que proferiu durante o debate do Estado da Nação, porém, o chefe de Governo não citou as fontes dos dados apresentados, nem especificou quando e durante quanto tempo essa liderança portuguesa se terá verificado.
De qualquer modo, os dados estatísticos do Eurostat indicam que Portugal não está à frente da Albânia, da Islândia e da Noruega ao nível europeu. E no âmbito mais restrito da União Europeia também não regista uma maior percentagem de eletricidade proveniente de energias renováveis do que a Áustria, a Suécia, a Dinamarca e a Letónia.
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Avaliação do Polígrafo:
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