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| - Está a circular nas redes sociais uma ilustração que sugere que em 1963 foi lançado um filme italiano galardoado com um prémio em Triestre chamado “Variante Ómicron”, precisamente o nome da nova variante do coronavírus SARS-CoV-2 que já se tornou dominante em Portugal.
A publicação sugere que “estamos na segunda vaga” desta variante porque a primeira foi nos anos 60, quando o filme ganhou o “Festival de Cinema Fantástico de Triestre” . E o suposto poster do filme sugere que a obra relata “o dia em que a Terra foi transformada num cemitério”.
Mas é falso que em 1963 tenha sido lançado um filme com este nome. Na verdade, o poster em causa não é mais do que uma montagem do cartaz distribuído em Espanha que apresentava “Fase IV: Destruição”, um filme de ficção científica em que “as formigas do deserto de repente formam uma inteligência coletiva e começam a travar uma guerra contra os habitantes”. “Cabe a dois cientistas e uma rapariga perdida que eles resgataram das formigas destruí-los”, diz a sinopse apresentada pelo IMDB.
Na ilustração que surge nas publicações falsas, pode reparar-se que, num plano de fundo, está uma mão direita com os dedos fletidos a ser perfurada por uma formiga. Esse desenho, assim como o subtítulo do filme, surgem também no poster principal de “Fase IV: Destruição” — que, de facto, ganhou um galardão: o Prémio Especial do Júri do Festival do Cinema Fantástico de Avoriaz, uma cidade francesa. Não italiana. E em 1975, não quase 10 anos antes.
De facto, em 1963, foi lançado um filme chamado apenas “Ómicron”, que chegou a estar nomeado do Festival de Cinema de Veneza, mas nem o cartaz é o apresentado nesta publicação, nem a história envolve um vírus. Segundo a sinopse do IMDB, o filme centra-se na história de um “alien que se apodera do corpo de um terráqueo para aprender mais sobre o planeta de modo a que a sua raça o possa dominar”.
A autora desta montagem foi Becky Cheatle, uma realizadora e comediante que decidiu alterar os posters de filmes de ficção científica dos anos 70 para introduzir a frase “A Variante Ómicron” onde originalmente estavam os títulos. Foi ela mesmo quem apresentou o resultado final no Twitter, dizendo claramente: “Eu pus em Photoshop a frase ‘A Variante Ómicron’ numa série de posters de filmes de ficção científica dos anos 70”. Outros posters trabalhados por Becky Cheatle incluem os dos filmes “A Ameaça de Andrómeda” e “Colossus”.
https://twitter.com/BeckyCheatle/status/1467187751099457536
Mais tarde, apercebendo-se de que essa iniciativa artística estava a ser instrumentalizada por pessoas anti-vacinas e negacionistas, Becky Cheatle foi mais longe: introduziu a frase “Os Não-Vacinados” noutros cartazes de filmes antigos e voltou a publicá-los no Twitter. Na mensagem, podia ler-se: “Como reparação por inadvertidamente me tornar a líder mundial dos anti-vacinas na maior parte de quinta-feira, fiz alguns posters de filmes retro anti-anti-vacinas para equilibrar a balança”.
Conclusão
Não é verdade que em 1963 já tenha existido um filme chamado “A Variante Ómicron”, tal como a nova variante do SARS-CoV-2. O poster apresentado nas publicações falsas é uma montagem com base no cartaz espanhol do filme “Fase IV:Destruição” e foi claramente identificado como sendo um projeto artístico pela autora nas redes sociais. O filme em causa nem sequer retrata qualquer luta contra um vírus, mas sim contra formigas do deserto que desenvolvem inteligência coletiva e atacam a humanidade.
Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
Nota: artigo atualuzado às 09h36 de 30 de dezembro para acrescentar a referência a um filme de 1963 chamado apenas “Ómicron” que não tem relação com o cartaz apresentado na publicação, nem a história gira em torno de um vírus.
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