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| - A publicação fala no “silêncio” do deputado do Iniciativa Liberal sobre a fuga à justiça de João Rendeiro, o ex-presidente do Banco Privado Português, e relaciona-a com o facto de João Cotrim Figueiredo ter sido “presidente da Privado Holding, dona do BPP”. O Observador verifica neste artigo se a afirmação que é feita é verdadeira.
Comecemos pela parte do “silêncio” de que o deputado é acusado. A 29 de setembro deste ano, Mariana Mortágua, do Bloco de Esquerda, falou no “óbvio silêncio do CDS, Chega e Iniciativa Liberal” em relação ao tema Rendeiro . E é verdade que nesse debate, o deputado do IL não usou da palavra, o que aconteceu porque não soube de antemão que o tema seria abordado pelo BE, segundo a sua assessoria.
Mas é verdade que nunca falou no assunto? Não. No programa “Parlamento”, da RTP, exibido a 4 de outubro, a fuga de Rendeiro esteve em debate e, entre as reações recolhidas pelo canal de televisão, está a de Cotrim Figueiredo. O deputado diz, aos 47:02 minutos do programa que pode rever aqui, fala do caso como uma fragilização da democracia e uma minagem da confiança dos portugueses no sistema, o que só favorece os populistas de turno. Porque no caso de João Rendeiro temos, evidentemente, uma indignação muito legítima que ninguém entende e que parece corroborar a ideia que existe uma justiça para ricos e outra para pobres”.
Agora, a parte da gestão do BPP. Escreve este utilizador do Facebook que “João Cotrim Figueiredo foi presidente executivo da Privado Holding, dona do BPP. Depois do estouro do BPP, o Sr. Cotrim de Figueiredo mudou-se para a área de televisão, assumindo o cargo de diretor geral da TVI.” São duas afirmações corretas, na medida em que João Cotrim Figueiredo exerceu mesmo a presidência executiva da Privado Holding e, depois disso, assumiu as funções de diretor-geral da TVI, na sequência da saída de José Eduardo Moniz. Mas as datas em que tudo aconteceu fazem com que a conclusão retirada nesta publicação seja falsa.
Cotrim Figueiredo assumiu as funções de presidente da Privado Holding em janeiro de 2009, depois da saída de João Rendeiro. O antigo banqueiro foi entretanto acusado de crimes de fraude fiscal qualificada, abuso de confiança qualificado e branqueamento de capitais por factos que ocorreram entre 2003 e 2008 na sequência da atribuição de prémios e apropriação de dinheiro do banco de forma indevida.
A gestão que levou a estes factos — e também à situação de fragilidade financeira do banco detido pela financeira, que teve de ser intervencionado pelo Estado em dezembro de 2008 — foi anterior à de Cotrim Figueiredo, que entrou em janeiro de 2009, tendo saído em maio desse mesmo ano.
Confrontado pelo Observador com a acusação que surgiu no Facebook, o deputado fez saber, através da sua assessoria de imprensa, que “nunca esteve no BPP, nunca geriu o BPP, nunca trabalhou com João Rendeiro e nunca defendeu os seus interesses, muito pelo contrário.”
A nota enviada ao Observador pelo seu gabinete esclarece que “João Cotrim Figueiredo assumiu funções de administrador executivo na Privado Holding, acionista do Banco Privado Português (BPP), em janeiro de 2009, após a intervenção do Banco de Portugal no BPP e da saída forçada de João Rendeiro de ambas as instituições. Nos termos da intervenção do Banco de Portugal no BPP a Privado Holding deixou de ter, e de poder ter, qualquer relação com o BPP.”
E adianta ainda que o mandato que o agora deputado assumiu “era o de tentar evitar a destruição de valor dos ativos da Privado Holding. A nova administração anunciou, logo em janeiro de 2009, a realização de uma auditoria para apurar as responsabilidades da anterior administração”, passando por uma “proposta de viabilização do ativo BPP baseada num novo modelo de negócio virado para o apoio e reestruturação de PMEs com potencial, mas com lacunas ao nível da gestão.” Uma solução que, segundo nota o deputado, “envolvia a entrada de novos acionistas no capital e a total diluição da posição dos anteriores acionistas, conjunto em que se incluía João Rendeiro. Por outras palavras, na solução desenvolvida pela equipa liderada por João Cotrim Figueiredo, João Rendeiro perderia a quase totalidade da sua posição.”
Esta proposta da administração presidida por Cotrim foi rejeitada pela Assembleia Geral de acionistas em maio de 2009, “exatamente por implicar perdas muito avultados para esses mesmos acionista”, e foi na sequência disso que o agora deputado apresentou a sua demissão da presidência da Privado Holding. Nessa reunião ainda participou (apenas no início) Rendeiro na qualidade de maior acionista da financeira.
Conclusão
Não é verdade que o deputado do Iniciativa Liberal tenha ficado em silêncio sobre a fuga de João Rendeiro, tendo referido esse facto, na RTP, como “uma fragilização da democracia e uma minagem da confiança dos portugueses no sistema, o que só favorece os populistas de turno”. E também não é verdade que esteja relacionado com a gestão de Rendeiro no BPP, já que assumiu a presidência da Privado Holding, dona do banco, depois do banqueiro ter deixado de presidir à gestão da financeira.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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