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| - Um “médico infectologista” anónimo terá aconselhado a população a “beber água de 15 em 15 minutos” para evitar o contágio por SARS-CoV-2, o vírus que provoca a Covid-19. Este conselho está a ser difundido através de grupos de conversação no WhatsApp.
“Não precisa de ser um copo cheio, mas apenas alguns goles para manter a garganta húmida”, pode ler-se no texto que tem vindo a ser propagado. De seguida, a explicação: “Ao molhar a garganta se o vírus estiver ali, vai direto para o estômago, e não há bactéria ou vírus que resista ao suco gástrico. Se a garganta estiver seca, o vírus vai para o esófago e dali vai para os pulmões, onde ocorre a dificuldade em respirar, e é o que tem levado várias pessoas ao óbito”.
Será que este conselho tem algum fundamento científico?
A informação viral é falsa e não existe nenhuma evidência científica de que beber água de 15 em 15 minutos previna a Covid-19. Paulo Paixão, presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia, explica que, para além deste gesto não ser eficaz na prevenção do contágio, o SARS-CoV-2 “não penetra só pela garganta”.
“O vírus muitas vezes infeta não pela via oral (boca) mas através das narinas e, portanto, isso não teria qualquer efeito. Por outro lado, não está demonstrado que, mesmo que a pessoa seja infetada pela boca, beber água de 15 em 15 minutos teria qualquer efeito”, sublinha o virologista.
A garantia de que o vírus é destruído pelo suco gástrico também é falsa. “Este é um dos pouquíssimos vírus respiratórios que consegue passar a barreira gástrica”, afirma Paulo Paixão, que lembra que o SARS-CoV-2 “até se consegue detetar nas fezes de muitas das pessoas infetadas”.
Um estudo desenvolvido por investigadores do Quinto Hospital Afiliado de Guangshou, na China, identificou a presença de RNA do novo coronavírus nas fezes de 53,4% dos doentes infetados. Os investigadores detetaram ainda a presença do vírus nas fezes de 23% dos indivíduos que já estavam curados da doença.
Em suma, beber água de 15 em 15 minutos para manter a garganta húmida não previne o contágio pelo novo coronavírus. Para além de o vírus poder entrar no organismo através das fossas nasais, a água também não transporta o SARS-CoV-2 para o estômago e os sucos gástricos não o destroem. Este vírus já demonstrou ter a capacidade de atravessar a barreira gástrica, como explica o presidente da Sociedade Portuguesa de Virologia.
Esta mensagem tem sido partilhada em vários países. A Agência Lupa (Brasil), a BBC Future (Reino Unido) e a Newtral (Espanha) também já desmitificaram esta informação.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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