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| - Começamos pelo fim, explicando desde já o motivo da classificação de “Verdadeiro, Mas”: a citação atribuída a António Costa está adulterada.
Na realidade, em junho de 2014, durante a sessão de apresentação da sua candidatura às eleições primárias do PS (quando disputou a liderança do partido contra o incumbente António José Seguro), o então autarca de Lisboa defendeu que “o PS deve orgulhar-se da visão estratégica que enunciou o Governo liderado por António Guterres e do impulso reformista com que, sob a liderança de José Sócrates, assumiu o Governo em 2005″.
A frase aparece cortada na publicação sob análise, de forma a retirar Guterres de cena e concentrar todo o evocado “orgulho” em Sócrates, inclusive a “visão estratégica” que não lhe foi atribuída na afirmação de Costa. É um detalhe, mas não deixa de ser uma adulteração que engana ou induz em erro.
De resto, a percentagem de 60% também não é totalmente precisa, outro detalhe que não deixamos de salientar.
Ora, Sócrates tomou posse pela primeira vez do cargo de primeiro-ministro em março de 2005, sucedendo a Pedro Santana Lopes, depois de ter conquistado uma (inédita, até então) maioria absoluta parlamentar para o PS nas eleições legislativas.
De acordo com os dados do Banco de Portugal, a dívida das administrações públicas no primeiro trimestre de 2005 ascendia a 67,5% do Produto Interno Bruto (PIB), pelo que não se trata exatamente de 60% (como se indica na publicação em causa, falha de rigor).
A fasquia de 60% já tinha sido atingida pela primeira vez no quarto trimestre de 2002 e, desde então, manteve quase sempre a tendência de crescimento, trimestre após trimestre.
No final do primeiro mandato de Sócrates como primeiro-ministro, em 2009, já tinha chegado ao patamar de 87,8% (quarto trimestre de 2009), perfazendo um aumento de 20,3 pontos percentuais desde a tomada de posse de Sócrates.
Aliás, na campanha para as eleições legislativas de setembro de 2009, Manuela Ferreira Leite, então líder do PSD e candidata a primeira-ministra, alertou insistentemente para as potenciais consequências desse substancial aumento da dívida pública.
Contudo, o PSD de Ferreira Leite não foi além de 29,11% dos votos expressos nas eleições legislativas, sendo incapaz de evitar a reeleição de Sócrates (embora o PS tenha então perdido a maioria absoluta ao nível parlamentar).
Sócrates viria a demitir-se em março de 2011, sob a iminência de uma “bancarrota” do Estado português que acabou por ser evitada através do pedido de resgate financeiro à troika (Comissão Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional).
No primeiro trimestre de 2011, a dívida pública já estava em 101,5% do PIB. E continuaria a subir até um pico de 134,9% do PIB no segundo trimestre de 2013 que entretanto até foi superado no primeiro trimestre de 2021, em contexto de pandemia de Covid-19, quando alcançou o nível inédito de 138,3%.
Entretanto já voltou a baixar para 123,4% do PIB no segundo trimestre de 2022 e o objetivo do Governo de Costa será reduzir ainda mais para 110,8% em 2023. Ainda assim superior ao nível de dívida pública registado na altura da demissão de Sócrates e do pedido de resgate financeiro à troika, no primeiro trimestre de 2011.
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Avaliação do Polígrafo:
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