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| - A auto-congratulação surgiu em várias frentes. A primeira nota de celebração foi publicada no site do Ministério da Saúde, a 10 de julho, onde se lê que “o objetivo de chegar ao início deste verão com 70% da população adulta vacinada contra a Covid-19 com pelo menos uma dose foi atingido na passada sexta-feira [9 de julho], antecipando a meta que tinha sido definida pelo Governo”. Seguiram-se outras notas do Governo e até um tweet do PS a dar conta desse suposto marco. A questão é: era essa a meta estabelecida pelo Governo?
O objetivo de chegar ao início deste verão com 70% da população adulta vacinada contra a Covid-19 com pelo menos uma dose foi atingido na passada sexta-feira, antecipando a meta que tinha sido definida pelo Governo.#RecuperarPortugal https://t.co/hWJEAgz3xF pic.twitter.com/1zsXesujo8
— psocialista (@psocialista) July 12, 2021
Em janeiro, menos de um mês após o início do processo de vacinação nos diferentes Estados-membros, a Comissão Europeia deu o primeiro passo em frente e fixou o objetivo de ter, pelo menos, 70% da população adulta vacinada até ao final do verão. O calendário apontava, nessa altura, para o “final de agosto” ou para o “final do verão”, na perspetiva do vice-presidente da Comissão, Margaritis Schinas.
Um calendário “perfeitamente exequível, porque nas próximas semanas e meses vamos ter novas autorizações e muitas mais doses a entrar no mercado europeu”, disse Schinas em conferência de imprensa, a 19 de janeiro.
Dois dias mais tarde, António Costa alinhava o discurso pela bitola europeia. “As propostas da Comissão Europeia estão em linha com o nosso próprio plano de vacinação e as doses que semanalmente Portugal recebe decorrem dos contratos definidos pela própria Comissão Europeia. Portanto, os objetivos estão fixados tendo em conta as doses e o ritmo da sua distribuição”, disse o primeiro-ministro.
Para Portugal, os objetivos foram estabelecidos nestes termos: “Se não houver um percalço no processo de distribuição das vacinas, que estão contratualizadas e calendarizadas, Portugal chegará ao final do verão com condições para ter 70% da população devidamente imunizada.”
Ou seja, nesse momento (há cerca de seis meses), António Costa admitia que mais de dois terços da população portuguesa pudessem estar vacinados contra a Covid-19. Mas fazia depender o cumprimento desse calendário da entrega de vacinas na frequência prevista inicialmente.
Há, no entanto, duas notas a reter nestas palavras do primeiro-ministro. Por um lado, Costa falava na vacinação de “70% da população” do país. Ainda que não fazendo uma referência clara, admite-se que se estivesse a referir à população adulta, uma vez que não se abordava ainda a possibilidade de os menores de 18 anos serem incluídos neste processo. Segunda nota: a declaração, feita numa conferência de imprensa no final de uma cimeira de líderes em que o plano de vacinação esteve em cima da mesa, refere-se a uma “população devidamente imunizada” por altura do verão.
Depois disso, a ministra da Saúde insistiu no objetivo de que, apesar dos “tropeções”, Portugal teria 70% da população vacinada até ao final do verão; e só em maio o comandante da task force para a vacinação muda os termos do objetivo inicial traçado pelo Governo.
“Nós antecipamos os 70% [de vacinação] do fim de verão para julho, agosto”, disse Gouveia e Melo, no âmbito de uma sessão solene do Dia do Município, em Leiria. O vice-almirante diria ainda o seguinte: “Se tudo correr bem, se as vacinas chegarem, tivermos as vacinas que pensamos ter disponibilizadas, no dia 8 de agosto teremos 70% da população com pelo menos uma dose.” Só aqui surge a referência a “pelo menos uma dose” da vacina — mas esse não era o objetivo inicial do Governo.
Essa meta foi traçada por António Costa logo em janeiro e estava em linha com os objetivos da Comissão Europeia: “Portugal chegará ao final do verão com condições para ter 70% da população devidamente imunizada.”
De volta às notas oficiais e aos tweets partidários divulgados nos últimos dias, e comparando-os com a meta traçada há meio ano, há um desfasamento entre o ponto de partida e o cenário atual. Admitindo que a referência à “população adulta” de que o Governo fala agora corresponde à “população vacinada” a que se fazia referência em janeiro, ainda assim, a “meta” no início do processo de vacinação não apontava para “pelo menos uma dose” atribuída a 70% da população. O que estava em causa era a “devida imunização” dos portugueses — e essa imunização, à exceção da vacina da Janssen, só se alcança com as duas doses das vacinas contra a Covid-19 disponíveis na União Europeia.
É verdade que, de acordo com os dados oficiais, se alcançou um nível de vacinação de 70% da população portuguesa no início de julho. Mas falta garantir uma segunda dose da vacina a uma parte significativa da população para alcançar esse patamar.
Neste momento, segundo dados do portal de estatística da Universidade de Oxford, Our World In Data, Portugal tem 42,05% da população totalmente vacinada. E apenas 61,05% da população já recebeu, pelo menos, uma dose do conjunto de vacinas (com dados que reportam a 12 de julho), num desfasamento com os dados reportados pelo Governo português que se podem justificar com o facto de o portal contabilizar toda a população (e não apenas os maiores de 18 anos de idade).
Por comparação os dados da União Europeia apontam, neste momento, para uma vacinação completa de 39,6% da população dos 27 Estados-membros.
Conclusão
O comunicado do Ministério da Saúde e o tweet do PS reconfiguram o objetivo inicial. Em janeiro, o Governo alinhava posições com a União Europeia e comprometia-se a vacinar (de forma a obter a imunidade) 70% da população até ao final do verão.
Essa meta é reconfigurada agora, ao estabelecer um objetivo de 70% da população com, pelo menos, uma dose das vacinas.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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