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| - “Quanto à segurança, continuamos a ser o concelho na Área Metropolitana de Lisboa com taxas verdadeiramente vergonhosas, ocupando o 9º lugar, isto de acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE). Portanto, quanto a isso, houve uma falência da gestão da câmara neste executivo”, afirmou Suzana Garcia, na corrida à Câmara Municipal da Amadora (CMA) apoiada por uma coligação que junta o PSD, o CDS-PP, o PDR, o Aliança e o Partido da Terra (MPT).
Terá razão?
Antes de mais, é necessário frisar que não é claro que Suzana Garcia se esteja a referir à taxa de criminalidade, uma vez que a própria não indica explicitamente qual o ranking ou o indicador em que se baseia para atribuir à Amadora um 9º lugar. Ainda assim, tendo em conta que a candidata à CMA mencionou o INE como fonte para a sua afirmação, há apenas um indicador disponibilizado por esse Instituto que mede o nível de segurança por localização geográfica: a taxa de criminalidade.
O Polígrafo verificou o quadro relativo a esta informação, discriminada por região, ano e tipo de crime, verifica-se que a Amadora era, em 2020, último ano com dados disponíveis, o 10º e não o 9º concelho da Área Metropolitana de Lisboa com maior taxa de criminalidade. Com uma taxa associada de 27%, o concelho a que concorre Suzana Garcia fica atrás de Alcochete (30,9%), Almada (34%), Barreiro (39,4%), Lisboa (49,7%), Moita (34,4%), Montijo (33,6%), Palmela (32,8%), Sesimbra (38,5%) e Setúbal (34,4%).
Assim, com nove concelhos à sua frente, a Amadora ocupa um lugar médio no ranking, estando acima de Cascais (25,2%), Loures (25,4%), Mafra (22,8%), Odivelas (18,8%), Oeiras (22,5%), Seixal (23,3%), Sintra (26,2%) e Vila Franca de Xira (22,3%). Se a contagem for crescente, a Amadora ocupa efetivamente o 9º lugar: mas dos concelhos com menor taxa de criminalidade na Área Metropolitana de Lisboa.
A primeira parte da afirmação de Suzana Garcia é, no mínimo, imprecisa e carece de contexto. Contactada pelo Polígrafo, e confrontada com os dados do INE, a candidata defende que os “dados recolhidos são da Câmara Municipal” e que assumiu, por isso, que “a informação veiculada pelo site oficial espelhava a verdade dos factos”. Ora, consultando o portal da autarquia da Amadora verifica-se que há, de facto, um comunicado que coloca o concelho como o 9º no ranking dos concelhos com mais incidência de crimes. Mas a fonte mencionada não é o INE, é sim o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2020.
Mas a candidata não ficou por aí, justificando esta alegada taxa “vergonhosa” com uma “falência da gestão da câmara neste executivo”. Ora, a verdade é que, consultando os mesmo dados acima referidos, a taxa de criminalidade no concelho da Amadora tem vindo a diminuir desde 2017, ano em que se registou uma taxa de 37,4%.
Antes disso, no primeiro mandato do atual executivo camarário, a taxa de criminalidade tinha diminuído já muito significativamente. Em 2012, por exemplo, o concelho registava 46,8% nesse indicador. No ano seguinte, quando Carla Tavares, atual presidente da Câmara, tomou posse para um primeiro mandato, este valor caía para 41,3%. Nos anos seguintes e até 2017, como vimos, o executivo conseguiu baixar a taxa de criminalidade na Amadora para 37,4%, um valor que viria a cair ainda mais em 2020.
A “falência de gestão da câmara” apontada por Suzana Garcia ao atual executivo parece não ter sido suficiente para aumentar as taxas de criminalidade no concelho. Aliás, já no início do mês de maio deste ano, e no âmbito da divulgação recente do Relatório Anual de Segurança Interna 2020, Paulo Ornelas Flor, Comandante da Divisão da PSP da Amadora, apresentou dados sobre a evolução da criminalidade no município, tendo concluído que a “Amadora não é um concelho que lidera, na Área Metropolitana de Lisboa (AML), a criminalidade”.
Ao Polígrafo, Paulo Flor endereçou dados que comprovam a quebra da incidência de crimes neste concelho. Tendo por base o Relatório Anual de Segurança Interna (RASI) de 2020, os números revelam que, em 2017, a Amadora era o “4º concelho com mais incidência de crimes” da Área Metropolitana de Lisboa. Em 2020, segundo a mesma fonte, a Amadora passou a ser o 9º concelho no ranking, com “13 crimes por dia”.
Quanto a dados brutos sobre a criminalidade denunciada no concelho da Amadora, esta também diminuiu: entre 2017 e 2020 houve uma quebra de 25% no número de crimes, que passou de 6384 para 4847. Estes valores acompanham a descida do Índice Criminal por 1000 habitantes na Amadora, que caiu de 41,3 crimes em 2013 para 27,2 crimes em 2020.
Em suma, apesar de os dados apresentados por Suzana Garcia não estarem factualmente corretos, a distância entre as posições não é demasiado significativa. É antes na segunda parte da afirmação da candidata que reside o maior problema: não só a Amadora tem diminuído a taxa de criminalidade desde que o último executivo assumiu o cargo, como esta tendência se tem verificado desde 2013, ano em a atual presidente da Câmara deu início ao primeiro mandato. Não é, assim, verdade que tenha havido uma falência da gestão da câmara neste executivo ao nível da segurança do concelho.
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Avaliação do Polígrafo:
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