schema:text
| - “Então não sabia de nada? E que diz a esta notícia de 24 de junho de 2019? Incompetente é pois o Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) está em vigor desde 25 de maio de 2018 e Medina não o cumpre na Câmara de Lisboa”, critica-se numa das publicações em que se partilha o recorte de uma notícia de 2019 que, por sua vez, apresenta o seguinte título: “Ativistas acusam Câmara de Lisboa de estar ‘de cócoras perante Israel‘”.
“A Câmara Municipal de Lisboa informou a Embaixada de Israel de um protesto pró-Palestina, mas diz que é um procedimento de rotina. Os ativistas responsabilizarão Medina se houver ação da Mossad”, lê-se na introdução da notícia.
A notícia é autêntica? Confirma-se que a CML enviou dados de manifestantes pró-Palestina à Embaixada de Israel em 2019?
De facto, no dia 24 de junho de 2019, vários órgãos de comunicação social, nomeadamente a RTP, noticiaram que ativistas do Comité de Solidariedade com a Palestina acusavam a CML de conluio com a Embaixada de Israel, por ter fornecido dados sobre uma manifestação convocada para o dia 26 de junho de 2019.
“O Comité de Solidariedade com a Palestina (CSP), no âmbito da sua participação na campanha de ‘Boicote, Desinvestimento e Sanções’, convocou para a próxima quarta-feira, 26 de junho, uma manifestação para apelar ao cantor brasileiro Milton Nascimento, que não vá atuar em Israel, classificado como um Estado de apartheid. Comunicou depois à Câmara Municipal de Lisboa a sua intenção de levar a cabo essa manifestação, deixando como habitualmente ao critério da Câmara tomar as medidas que entendesse, como diz no comunicado, ‘para garantir a sua segurança e a dos e das circunstantes‘”, informou a RTP.
“Contudo, e ainda segundo o CSP, ‘a CML – que todos conhecemos pela demora com que responde aos munícipes – encaminhou imediatamente a comunicação do CSP para a Embaixada de Israel‘, tendo, nas palavras do mesmo comunicado, enviado uma cópia à delegação palestiniana, ‘para parecer equânime’. Esta é, ainda segundo o comunicado do CSP, uma ‘atitude de autêntica delação da CML‘, pelo que ‘responsabiliza pessoalmente o seu presidente, Fernando Medina, por qualquer atentado que esbirros da Mossad possam encenar contra os participantes na concentração pacífica de 26 de junho”, reporta-se na mesma notícia.
“Contactado pela RTP, o gabinete de imprensa da Câmara Municipal de Lisboa afirmou que é sua prática habitual reencaminhar nomeadamente para as forças de segurança e o Ministério da Administração Interna a informação relativa a manifestações, acrescentando que ‘sempre que um país é visado pelo tema de uma manifestação, a sua representação diplomática no nosso país é igualmente informada‘”, conclui-se.
A notícia é autêntica e trata-se de um caso similar – ou muito parecido – ao que foi revelado pelo jornal “Expresso” (e também pelo “Observador”, quase em simultâneo) a 9 de junho de 2021, mas envolvendo a Embaixada da Rússia.
“Para realizar uma manifestação em Lisboa é preciso enviar à CML os dados pessoais de pelo menos três organizadores. Foi o que fez Ksenia Ashrafullina, empresária de 36 anos com nacionalidade russa e portuguesa, com mais dois ativistas russos. Propunham-se realizar uma concentração em solidaridade com Alexei Navalny, opositor russo detido desde abril. Esses contactos deveriam ser facultados pela CML à Polícia de Segurança Pública (PSP), para que, se algo corresse mal ou se fosse preciso desviar a rota da manifestação, as autoridades soubessem quem contactar”, descreveu o “Expresso”.
“O problema é que os dados pessoais dos três ativistas residentes em Portugal acabaram também nas mãos do Ministério dos Negócios Estrangeiros (MNE) russo, em Moscovo, além de terem sido reenviados para a Embaixada da Rússia em Portugal, segundo informações a que o ‘Expresso’ teve acesso”, sublinha-se.
No dia seguinte à publicação das notícias, Fernando Medina apresentou um pedido de desculpa público pelo “erro lamentável” que esteve na origem do envio de dados pessoais de manifestantes anti-Putin às autoridades russas. “Um erro que não poderia ter acontecido“.
“A Câmara de Lisboa é uma organização muito grande, tem muitos procedimentos adotados para muitas matérias, os procedimentos desenvolvem-se. Neste caso, foi dada razão aos manifestantes em abril, o protocolo foi alterado daí para a frente”, afirmou Medina. “Eu, pessoalmente, soube da comunicação pela comunicação social há muito poucos dias, quando as questões surgiram a público. Estou a reconhecer o erro como responsável da organização e não posso ser mais claro quanto a isso”.
__________________________________________
Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Verdadeiro” ou “Maioritariamente Verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
|