schema:text
| - Não foi uma, nem duas, mas várias as vezes que António Costa sublinhou que o aeroporto do Montijo era a única opção do Governo. Nos últimos anos, quando questionado sobre a escolha para a expansão do aeroporto de Lisboa, o primeiro-ministro repetiu sempre a mesma expressão: “Não há plano B.”
Em entrevista à TSF e Dinheiro Vivo, a 29 de março de 2019, Costa lamentou que não se tivesse optado pela construção de um aeroporto em Alcochete: “Entendo que há dez anos deveria ter sido feito aquilo que era a melhor solução que era a construção de um aeroporto de raiz em Alcochete. Não foi feito. Na altura entendeu-se que os números que demonstravam a necessidade de um novo aeroporto eram números megalómanos.”
Na altura, o primeiro-ministro insistiu que não existia um plano B caso o Estudo de Impacto Ambiental fosse desfavorável e reiterou “já tenho dito, com toda a clareza, que não há plano B“. Questionado sobre se não deveria estar a preparar um plano B caso o estudo fosse negativo, Costa explicou: “O plano B é simples. É construir um aeroporto de raiz porque todas as outras soluções alternativas, de Alverca, de Sintra, todas aquelas já foram estudadas, são sempre piores do que as outras. Enfim, o estudo de impacto ambiental, vamos aguardar a sua apresentação e depois a sua avaliação. Há uma coisa que é certa. No sítio onde já há um aeroporto seguramente haverá um impacto ambiental menor do que ir construir um de raiz onde não há nenhum aeroporto”, concluiu.
Dias depois, a 17 de abril, o primeiro-ministro foi ao Parlamento e novamente foi questionado pela oposição sobre a solução caso o Estudo de Impacto Ambiental chumbasse. Desta vez a resposta foi um pouco diferente e António Costa admitiu outra hipótese. “Não há um plano B à solução que é a melhor. Se houver aprovação com melhorias, terão de ser adotadas, se for chumbado teremos de ter todos a consciência que o único plano B é um plano A – voltar 10 anos atrás e fazer um aeroporto de raiz em Alcochete“.
Ainda em 2019, mas a 9 de setembro, Costa criticou o PSD por colocar em causa o desenvolvimento do aeroporto do Montijo, voltando a avisar que “não há plano B” e que a suspensão do projeto colocava seriamente em causa o crescimento económico. “Hoje em dia já não há plano B. Qualquer outra solução comprometeria muito fortemente a dinâmica de crescimento do turismo. Temos de manter uma linha de trabalho que não devolva o país à incerteza do que vai acontecer a seguir”, reforçou.
Já a 27 de fevereiro de 2020, pouco antes do início da pandemia de Covid-19, António Costa disse que “o Plano B ao Montijo é recuar sete anos e recomeçar do zero agora com a hipótese Alcochete. Isso terá custos muito grandes para a economia do país. Por isso todos devem agir com responsabilidade”.
E agora, qual é o plano?
Esta quarta-feira, 29 de junho, foi anunciado que era tempo de acelerar a substituição do Aeroporto Humberto Delgado, em Lisboa, travar o processo de Avaliação Ambiental Estratégica (AAE) que estava a cargo do Instituto da Mobilidade e dos Transportes (IMT) e apresentar uma solução que envolve Montijo e Alcochete.
Durante a tarde, foi publicado um despacho do Ministério das Infra-Estruturas onde é determinado que passa para as mãos do Laboratório Nacional de Engenharia Civil (LNEC) a realização de uma AAE, para avançar com as obras no Montijo em 2023. O objetivo é que em 2026 já seja possível aterrar numa infra-estrutura complementar à da Portela.
Ao mesmo tempo, vai avançar-se para um novo aeroporto construído de raiz no Campo de Tiro de Alcochete. “Em paralelo ao desenvolvimento da solução dual que mais rapidamente aumente a capacidade aeroportuária do País e da região de Lisboa, o Governo considera ser necessária uma solução estrutural, de longo prazo, e com capacidade de expansão numa mesma infraestrutura – uma solução que implica a construção de um moderno aeroporto de raiz que permita, no futuro, o encerramento do Aeroporto Humberto Delgado, libertando a cidade dos impactes associados a uma infraestrutura aeroportuária tão perto do centro urbano.”, lê-se no documento.
No mesmo despacho, o Governo admite e explica a mudança de ideias: “A verdade é que desde o momento da decisão da inclusão da solução Montijo stand alone como opção merecedora de estudo na avaliação ambiental estratégica, tanto a informação recolhida como a reflexão feita pelo Ministério das Infraestruturas e da Habitação levaram a concluir pela existência de dúvidas fundadas sobre a viabilidade desta solução. Os riscos de uma infraestrutura aeroportuária com duas pistas de grande extensão na península do Montijo não obter autorização ambiental para avançar são hoje avaliados como muito elevados. Por este motivo, o Governo deixou, pois, de equacionar a opção Montijo stand alone como viável e, nesse sentido, merecedora de estudo aprofundado.”
Já na noite de quarta-feira, o ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, em entrevista à SIC, também foi questionado sobre “o plano B”, afirmando que “infelizmente, as coisas vão mudando. (…) A realidade obrigou-nos a encontrar soluções e, portanto, foi isso que nós tivemos que encontrar. Perante a impossibilidade de expandir o atual Aeroporto Humberto Delgado, nós ficámos com uma capacidade limitada e esgotada mais rapidamente, o que nos obriga a encontrar uma solução estrutural de longo prazo. Essa solução de longo prazo é Alcochete mas não podemos ficar 10 a 13 anos à espera porque isso significa o país perder milhares de milhões de euros”.
__________________________
Nota editorial: Este artigo foi publicado antes de ser conhecida a decisão de António Costa. O primeiro-ministro determinou esta quinta-feira a revogação do despacho publicado ontem, dia 29 de junho, sobre a solução aeroportuária para a região de Lisboa e reafirmou que quer uma negociação e consenso com a oposição sobre esta matéria. Em comunicado, Costa “reafirma que a solução tem de ser negociada e consensualizada com a oposição, em particular com o principal partido da oposição e, em circunstância alguma, sem a devida informação prévia ao Presidente da República”.
Artigo atualizado às 10h55
|