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| - “Qual a razão de andarem a enganar os portugueses? Sendo obrigados a aceitar o corte de 15% no consumo de gás, vamos ter cortes na luz elétrica”, comenta-se num post de 27 de julho no Facebook, remetido ao Polígrafo com pedido de verificação de factos.
Em causa está um gráfico, com dados referentes ao primeiro trimestre de 2022, no qual se destaca que 58,86% da eletricidade consumida tem origem no gás natural, seguindo-se a energia hídrica (11,59%) e a cogeração renovável (8,02%), entre várias outras com percentagens inferiores.
Importa começar por esclarecer que, ao contrário do que se diz nesta publicação, o facto é que Portugal não será obrigado “a aceitar o corte de 15% no consumo de gás” natural. Era essa a proposta inicial da Comissão Europeia, mas o acordo estabelecido no dia 26 de julho acabou por reduzir a meta de poupança de 45 para 30 mil milhões de metros cúbicos de gás natural e ter em conta as especificidades dos Estados-membros, desde logo ao estabelecer algumas isenções e a possibilidade de pedidos de derrogação.
Uma das razões apontadas pelo ministro do Ambiente e da Ação Climática de Portugal, Duarte Cordeiro, para rejeitar o acordo inicial, consistia nas fracas interconexões de gás com outros Estados-membros. Ora, na reformulação do acordo, a Comissão Europeia concordou que “os Estados-membros que não estão interligados com as redes de gás de outros Estados-membros estão isentos de reduções obrigatórias de gás, uma vez que não poderiam libertar volumes significativos de gás de gasoduto em benefício de outros Estados-membros”.
Se invocar as derrogações previstas, Portugal não terá que reduzir mais do que 7% do consumo de gás natural, no período entre 1 de agosto de 2022 e 31 de março de 2023.
Quanto ao gráfico, terá sido replicado a partir da página da EDP – Energias de Portugal. No primeiro trimestre de 2022, a EDP indica que 58,86% da energia consumida por “residenciais e pequenos negócios” teve origem em gás natural.
No total da EDP Comercial que inclui empresas, porém, a percentagem do gás natural baixa ligeiramente para 54,55%. Já no segundo trimestre registaram-se 57,96% e 52,37% de gás natural nas referidas categorias: “residenciais e pequenos negócios” e “total EDP Comercial”.
Mas esta é apenas uma das empresas fornecedoras de energia, apesar da posição dominante no mercado nacional. Na base de dados da REN – Redes Energéticas Nacionais dispomos dos números globais.
De acordo com os últimos dados da REN, em julho de 2022, o gás natural foi a origem de 36,1% do abastecimento do consumo de eletricidade em Portugal, o que corresponde a um aumento de 4 pontos percentuais em comparação com julho de 2021.
Na medida em que 28,5% do abastecimento do consumo de eletricidade em julho de 2022 é atribuído ao “saldo importador“, sobretudo a partir de Espanha, presumindo que uma parte considerável dessa eletricidade importada terá origem em gás natural, parece ser seguro concluir que mais de metade da eletricidade consumida em Portugal provém de gás natural.
Não apenas na EDP, mas ao nível nacional, embora com a ressalva de que o “saldo importador” não tem dados específicos quanto à origem da eletricidade.
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Avaliação do Polígrafo:
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