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| - António Costa foi a Kiev, vestiu o colete e na memória ficaram as fotografias que tirou lado a lado com Volodymyr Zelensky, que nem por isso conseguiu de Costa tudo o que queria. Mas se o uniforme do primeiro-ministro não foi motivo de controvérsia, o de um suposto militar ucraniano que o acompanhou está a ser associado a batalhões nazis. Tudo porque incluía uma insígnia militar com uma caveira.
“Lembram-se quando este homem do meio, em plena campanha eleitoral, disse ‘não passarão‘? Pois este homem, ontem, em Irpin, não teve qualquer problema em passear ao lado de um militar ucraniano que tem, na camisa, o emblema da 3ª Divisão SS Totenkopf dos nazis“, lê-se numa das várias publicações no Facebook sobre o assunto.
“Curiosamente, Costa publicou uma série de fotografias no Twitter, mas não esta”, acrescenta o mesmo post. Ora, pode-se desde logo desmentir esta última alegação já que o primeiro-ministro partilhou, na sua conta pessoal de Twitter, a fotografia que agora circula nas redes sociais, com a seguinte descrição: “A guerra afeta sempre os inocentes. Famílias que tinham aqui as suas vidas, os seus empregos, os seus vizinhos, tiveram que abandonar tudo para tentar salvar as suas vidas. O que mais me impressiona é a violência contra civis.”
O Polígrafo verificou dois registos fotográficos feitos este sábado, por Oleg Petrasyuk, da European Pressphoto Agency (EPA), onde está presente António Costa e o homem em causa, fardado de preto. As letras dispostas no seu braço direito, “удо” indicam que se trata de um membro do Departamento de Proteção do Estado da Ucrânia, ou seja, estava ali com o objetivo de assegurar a proteção do primeiro-ministro português.
Na zona central do uniforme, pode ver-se, de facto, uma caveira logo acima de uma insígnia da bandeira ucraniana. Mas está longe de ser a mesma utilizada pela 3.ª Divisão SS Totenkopf, durante a Segunda Guerra Mundial. A Schutzstaffel, usualmente “SS”, foi uma organização paramilitar ligada a Adolf Hitler e ao partido nazi alemão, como é possível observar abaixo:
Esta é uma narrativa que resulta da visão pró-Kremlin de que as forças armadas ucranianas e a sociedade em si precisam de ser “desnazificadas” e que já circulou nas redes sociais aquando da visita da Coronel do Exército dos EUA, Brittany Stuart, ao Donbass.
Na realidade, a “caveira” era apenas a insígnia oficial da 72ª Brigada Mecanizada das Forças Terrestres Ucranianas. O design é, de resto, intimamente inspirado na bandeira de batalha dos Zaporozhians Negros, de quem a brigada herdou o nome por decreto presidencial em agosto de 2017.
À data, o “EUvsDisinfo” – projeto da União Europeia destinado a verificar a desinformação pró-russa – desmontou a alegação de que esta estaria a usar um emblema nazi, o mesmo que o segurança que acompanhou António Costa é agora acusado de ter no seu uniforme. Na realidade, a “caveira” era apenas a insígnia oficial da 72ª Brigada Mecanizada das Forças Terrestres Ucranianas. O design é, de resto, intimamente inspirado na bandeira de batalha dos Zaporozhians Negros, de quem a brigada herdou o nome por decreto presidencial em agosto de 2017.
Apesar disto, importa notar que houve de facto militares ucranianos que foram fotografados com o símbolo nazi “totenkopf”. Inclusive, e como garantiu o jornal “Newsweek”, Volodymyr Zelensky chegou a divulgar, numa galeria de fotos partilhadas no “Dia da Vitória” da Rússia, um registo de um militar com essa insígnia patente na farda. A fotografia foi prontamente eliminada das redes sociais do presidente ucraniano, mas pode vê-la aqui.
Ao mesmo jornal, a professora de História Cultural Europeia Mercedes Camino Morato afirmou que o símbolo da “caveira” foi e continua a ser usado por chetniks, russos, bálticos e ucranianos, embora com diferentes significados.
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