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| - A imagem mostra o ex-presidente de Cuba Raúl Castro a descer de um avião não identificado, com um grupo de pessoas à sua espera em terra. Que terra é essa, não se percebe imediatamente; e segundo este post trata-se de Caracas, capital da Venezuela, para onde o ex-político cubano teria “fugido” depois de rebentarem os protestos antigoverno “massivos”. “Comunistas desgraçados. Viva a liberdade”, comenta o utilizador que partilhou a fotografia.
Não é o único: são, pelo menos, às dezenas as publicações que circulam, publicados por utilizadores de redes sociais em várias partes do mundo, e que insistem na tese de que Raúl Castro teria fugido para a Venezuela por causa dos protestos da população, que foi para as ruas a 11 de julho, na maior manifestação da história recente do país, para criticar o Governo e a situação económica em Cuba. Nas ruas, ouviram-se gritos que pediam “liberdade” e “o fim da ditadura”.
Acontece que a descrição que acompanha a fotografia em todos esses casos não corresponde ao que aconteceu na realidade. Numa primeira pesquisa pela origem da imagem original, no Google, de facto o motor de busca sugere que se procure por “Raúl Castro” e “Venezuela” — mas apenas para reencaminhar o utilizador para uma série de fact checks internacionais que negam a veracidade da legenda.
Na verdade, a fotografia de Raúl Castro, sendo uma imagem original e não manipulada, não foi tirada em solo venezuelano — e nem sequer foi tirada este ano. A fotografia data de 2015 e foi tirada no contexto de uma visita do então presidente de Cuba da CELAC — Cimeira de Estados Latinoamericanos e Caribenhos — na Costa Rica, como partilhava, na altura, o Twitter oficial do evento.
Imágenes de la llegada de Raúl Castro, Presidente de #Cuba, a la #CELAC2015 pic.twitter.com/LDeyhK7SrS
— CELAC Costa Rica (@celac2015) January 27, 2015
De resto, há algumas provas que demonstram que Raúl Castro continuou em Cuba, pelo menos nos dias seguintes à grande manifestação de julho. Como vários órgãos internacionais recordam, logo a 13 de julho o Granma, órgão oficial do comité central do Partido Comunista Cubano, noticiava a participação de Raúl Castro numa reunião política que terá decorrido a 13 de julho e que terá contado também com o sucessor, o atual presidente Miguel Díaz-Canel Bermúdez.
“Durante o encontro, foram analisadas as provocações orquestradas por elementos contrarrevolucionários, organizados e financiados pelos Estados Unidos com fins desestabilizadores”, pode ler-se no texto, que acrescenta que houve uma “resposta exemplar do povo ao apelo do companheiro Díaz-Canel para defender a Revolução nas ruas, o que permitiu que as ações subversivas fossem derrotadas”. Além disso, a AFP publicou várias fotografias de Castro em Cuba, ao lado do presidente, já depois das manifestações.
Depois da manifestação de julho, foram abertos processos contra dezenas de detidos nos protestos — o El País refere que não há um número oficial — acusados de crimes como desordem pública, incitação ao crime e desacatos. Por entre as notícias de forte repressão dos protestos, a BBC fala de casos concretos de pessoas que ainda estarão detidas mais de um mês depois, como um rapaz de 14 anos e uma mãe que teve de interromper a amamentação de um filho.
Raúl Castro, irmão de Fidel Castro, deixou a presidência do país em 2018, assumida por Miguel Díaz-Canel. Este ano, deu mais um passo em direção à ‘reforma’ da política, passando a liderança do Partido Comunista Cubano também para Canel. Ainda assim, aos 89 anos continua a participar ativamente na política, como se pode ver pela notícia do Granma.
Este ano marca, assim, o fim de uma era de seis décadas em que os cubanos foram governados por membros da família Castro. Ao mesmo tempo, a ilha vive um período difícil, com a população a enfrentar, por exemplo, dificuldades e grandes filas para comprar alimentos.
Conclusão
A publicação que afirma que o ex-presidente Raúl Castro fugiu de Cuba por causa dos protestos contra o governo é falsa. A fotografia original foi tirada em 2015, na Costa Rica, numa cimeira em que Castro participou ainda enquanto presidente do país. O irmão de Fidel Castro esteve depois numa reunião com o Partido Comunista Cubano e foi visto e fotografado no país.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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