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| - Ultrapassada a fase da entrevista sobre as suas viagens ao Brasil e a obrigatoriedade ou não de informar as autoridades judiciais das mesmas, e já a propósito do recurso que apresentou sobre a sua pronúncia relativamente à prática de seis crimes, José Sócrates, confrontado pelo entrevistador com o facto de o juiz de instrução, Ivo Rosa, ter afirmado que o antigo primeiro-ministro “mercadejou” o cargo enquanto o exerceu, respondeu taxativamente: “Não, não disse. Desculpe, deixe-me explicar. Se me deixar explicar, eu ia lá.” O primeiro-ministro de Portugal entre 2005 e 2011 não voltou ao tema durante a entrevista à SIC, mas ficou o desmentido categórico ao facto citado por quem lhe colocou a pergunta.
Afinal, o juiz de instrução afirmou ou não que havia indícios de que José Sócrates mercadejou o cargo de primeiro-ministro?
A leitura da decisão instrutória da “Operação Marquês”, a 9 de abril de 2021, encaminhava-se para a sua parte final – 2.40 horas de quase 3.20 horas – quando o juiz Ivo Rosa explicou aquela que foi a sua avaliação do processo que se tornou mais mediática (aos 2h43m37s):
“Atenta a análise da prova e perante a factualidade imputada aí aos arguidos, tal como amplamente exposto e expendido, mostra-se indiciado que existem entregas em dinheiro por parte do arguido Carlos Santos Silva ao arguido José Sócrates, bem como pagamentos feitos por aquele arguido a favor deste, no montante global de 1.727.398,56 euros (…). Os factos indicados quanto às entregas de numerário indiciam, deste modo, a existência de um mercadejar com o cargo por parte do primeiro-ministro face ao arguido Carlos Santos Silva e, por conseguinte, uma invasão do campo da autonomia intencional do Estado.”
O juiz do Tribunal Central de Instrução Criminal (TCIC) de Lisboa entendia, assim, que aqueles atos indiciavam a prática do “crime de corrupção sem demonstração de ato concreto”, mas que já estava prescrito desde 2011.
É, pois, falso que o juiz Ivo Rosa não tenha considerado que José Sócrates mercadejou o cargo de primeiro-ministro. Apesar de Sócrates ter desmentido de forma categórica esse facto, o juiz do TCIC declarou-o mesmo, na leitura da decisão instrutória da “Operação Marquês”.
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Avaliação do Polígrafo:
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