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| - Num vídeo que está a ser difundido no Facebook, entre outras redes sociais, alega-se que deve beber dois litros de água durante 10 dias, na medida em que isso “elimina as dores”. Recomendar a ingestão de água não suscita dúvidas quanto aos respetivos benefícios para a saúde, mas o protagonista do vídeo não está a falar de água “normal”, mas sim de “água alcalina” que diz ter capacidade de providenciar “curas milagrosas”.
Após uma série de alegações sobre o que é ou não benéfico para a saúde das pessoas, o protagonista do vídeo termina com duas questões: “Quantos copos de água alcalina toma por dia?”; “Quais os benefícios que teve ao tomar a água alcalina?”.
Em associação ao vídeo destaca-se: “Alcalinize o seu corpo, tomando isso antes de dormir!”
De resto, encaminha depois para um artigo com “mais dicas para alcalinizar o corpo”. Essas “dicas” e a ideia principal de “alcalinizar o corpo” têm algum fundamento médico ou científico?
Para responder a esta questão, o Polígrafo contactou Leandro Oliveira, nutricionista e investigador no Centro de Investigação em Biociências e Tecnologias da Saúde (CBIOS) da Universidade Lusófona.
Em resposta, o mesmo começa por explicar que “uma propriedade importante do sangue é o seu grau de acidez ou de alcalinidade” e o grau de acidez ou alcalinidade de “qualquer solução, inclusive do sangue, é indicada pela escala de pH“.
“Quando falamos em pH estamos a falar de uma escala que vai de 0 a 14, em que no 7 estamos a falar de um pH neutro, abaixo de 7 de um pH ácido e acima de 7 de um pH básico ou alcalino. O nosso corpo tende a estar com um pH, ao nível alcalino, à volta dos 7, entre os 7,35 e os 7,45, e isto já é ligeiramente alcalino. Quando o nosso sangue começa a ficar mais ácido ou mais básico, tende a equilibrar para dentro destes valores”, sublinha Oliveira.
“Isto acaba por não ser muito influenciado pelos alimentos que ingerimos, porque quando ingerimos um alimento, seja mais ácido ou mais alcalino, quando chega ao estômago fica tudo ácido porque o estômago produz ácido clorídrico que ajuda na digestão dos alimentos, portanto tudo o que entre lá ficará com um pH ácido. À saída, para o intestino, o nosso organismo produz substâncias que neutralizam esse ácido e depois é absorvido pelo sangue. Quando chega ao sangue já se encontra num pH fisiologicamente equilibrado para não acidificar ou alcalinizar o sangue“, detalha.
“Sendo saudáveis, conseguimos regular o pH do nosso organismo”, assegura o nutricionista, que conclui assim que não é possível alcalinizar o corpo. “O nosso organismo tem capacidade para compensar de forma automática as alterações de pH no organismo, pelo que não existe evidência científica sustentada para que os hábitos alimentares se foquem apenas no pH dos alimentos ou no pH sanguíneo, que é regulado automaticamente pelos rins, pulmões e sistema tampão do organismo”.
Porém, se esta capacidade de auto-regulação não estiver a funcionar, ou seja, “se o pH do sangue se alterou significativamente, isto significa que a capacidade do corpo em compensar está a funcionar indevidamente”. Quanto isto acontece, o nutricionista alerta que “é necessária a intervenção médica“.
De resto, esclarece que “quando falamos em ‘dieta pH’, ou ‘dieta alcalina‘, estamos a falar em dietas que recomendam a diminuição de ingestão de alimentos que, teoricamente, produzem compostos ácidos – por exemplo as carnes ou alimentos processados – e privilegiam alimentos mais alcalinos – como as frutas ou vegetais -, na medida em que quando são absorvidas pelo nosso organismo acabam por se transformar em substâncias mais alcalinas. Portanto, no fundo, estamos a falar de uma alimentação saudável“.
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Avaliação do Polígrafo:
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