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| - “Atenção, as pistolas térmicas são perigosas”. O alerta surge numa publicação de Facebook onde se apresenta um conjunto de razões para não deixar que lhe meçam a temperatura com os referidos medidores. Esta prática tornou-se comum, principalmente nas empresas, para despistar a Covid-19, uma vez que a febre é um dos principais sintomas da doença.
O Polígrafo analisou cada uma das cinco afirmações feitas na referida publicação. Estarão correctas?
- Alerta nº 1: “Ninguém deve ser sujeito a este tipo de diagnóstico sem dar consentimento prévio”.
A lei não aborda a questão da autorização, a não ser quando se trata de fazer o registo dos resultados. Segundo o decreto-lei número 20/2020, publicado em Diário da República a 1 de maio, “no atual contexto da doença COVID-19, e exclusivamente por motivos de proteção da saúde do próprio e de terceiros, podem ser realizadas medições de temperatura corporal a trabalhadores para efeitos de acesso e permanência no local de trabalho”. No entanto, e com base no direito à proteção individual, é “expressamente proibido o registo da temperatura corporal associado à identidade da pessoa, salvo com expressa autorização da mesma”. O decreto indica ainda que “caso haja medições de temperatura superiores à normal temperatura corporal, pode ser impedido o acesso dessa pessoa ao local de trabalho”.
- Alerta nº 2: “Uma pessoa pode exigir que não lhe apontem a pistola à cabeça, e pedir que lhe meçam a temperatura através do pulso”.
João Júlio Cerqueira, médico especialista de medicina geral e familiar e criador do projeto Scimed, explica ao Polígrafo que “a maioria dos aparelhos aconselha a medição na testa da pessoa, num espaço livre de correntes de ar e sem o sol direto ou próximo de fontes de calor”, acrescentando que “a utilização deste tipo de termómetro em zonas não especificadas não representa qualquer perigo, mas pode dar leituras incorretas”.
Por exemplo o punho ou o pulso, como é sugerido na publicação, são zonas periféricas do organismo, o que “pode dar leituras mais baixas e a impressão errada de que não há aumento de temperatura corporal quando se pretende fazer o rastreio de estados febris”.
Por exemplo o punho ou o pulso, como é sugerido na publicação, são zonas periféricas do organismo, o que “pode dar leituras mais baixas e a impressão errada de que não há aumento de temperatura corporal quando se pretende fazer o rastreio de estados febris”.
- Alerta nº 3: “Não se pode apontar o laser nos olhos porque causa lesões graves oculares (queimaduras ou cegueira)”
João Júlio Cerqueira esclarece que “os termómetros infravermelhos funcionam recebendo a radiação térmica emitida pelos seres humanos. Não necessitam de enviar nenhum ‘laser’ para fazer a medição de temperatura”. Para o especialista, “o uso de termómetros infravermelhos não pode ser prejudicial aos olhos se não há qualquer emissão de radiação.”
Os receios relativamente à possibilidade dos termómetros de infravermelhos provocarem lesões já foram anteriormente analisados pelo Polígrafo. Pode ler aqui sobre esse assunto.
- Alerta nº 4: “O laser queima neurónios quando apontado na cabeça”
Outro erro, como explica o mesmo especialista ao Polígrafo: “Os medidores de temperatura à distância fazem leitura de radiação emitida pelo corpo, na gama dos infravermelhos”, ou seja, “absorvem radiação para fazer a leitura, não emitem radiação.”
“Os medidores de temperatura à distância fazem leitura de radiação emitida pelo corpo, na gama dos infravermelhos”, ou seja, “absorvem radiação para fazer a leitura, não emitem radiação”, afirma.
O médico alerta, ainda assim, que apenas devem ser utilizados na medição da temperatura corporal ou nos rastreios de estado febril os “aparelhos certificados” para o efeito.
- Alerta nº 5: “Nem todos os medidores de temperatura deste tipo são aptos para serem usados em seres vivos (humanos e animais) por causa do tipo de laser instalado nos mesmos”.
A leitura da temperatura, tal como referido anteriormente, é efetuada através da absorção da energia infravermelha que é emitida pelo organismo e não devido ao laser. “Os medidores de infravermelhos são todos seguros. Como explicado, apenas captam a energia que o organismo irradia. Não emite qualquer energia pelo que todos podem ser usados em seres vivos”, reforça o médico.
Existem diferentes tipos de termómetros para a medição da temperatura corporal, desde os tradicionais termómetros de mercúrio – entretanto descontinuados – até aos termómetros eletrónicos, auriculares e infravermelhos. É neste último grupo que se inserem as pistolas medidoras de temperatura.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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