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| - “Às segundas e quartas-feiras, o senhor primeiro-ministro diz aos trabalhadores que não podem ter melhores salários, que não podem pensar em ter melhores carreiras, nem pensar em baixar os impostos porque estamos em crise. Às terças e quintas-feiras, o Governo celebra o estrondoso sucesso do PIB português enquanto as maiores empresas apresentam lucros astronómicos“, começou por afirmar Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda, no debate preparatório do Conselho Europeu com a participação do primeiro-ministro António Costa, ontem à tarde na Assembleia da República.
“Há uma maioria de gente neste país que pedala sem parar e só vive pior, com menos salário, com muito mais conta da luz, com muito mais conta de supermercado, com dificuldade em pagar juros da sua casa, com dificuldade em pagar renda da sua casa. Enquanto isto acontece, há uma minoria que se pendura no país, que se pendura naqueles que pedalam para lucrar à boleia da inflação e que ainda tem o desplante de dizer ao país que não pode jantar fora à sexta-feira como fez o presidente do Santander“, acusou Mortágua.
Poucos minutos antes, no mesmo debate, a líder da bancada parlamentar do PCP, Paula Santos, já tinha evocado a mesma citação (apócrifa, ou pelo menos deturpada) do presidente do banco Santander Totta, embora de uma forma menos contundente:
“Gostaria de perguntar ao senhor primeiro-ministro se também acha que os portugueses continuam com um padrão de consumo elevado e a jantar fora à sexta-feira, como disse recentemente um banqueiro quando anunciava a duplicação de lucros.”
A origem do equívoco está num discurso proferido no dia 2 de fevereiro por Pedro Castro e Almeida, presidente da Comissão Executiva do banco Santander Totta, durante a apresentação à comunicação social das contas referentes a 2022.
Tal como o Polígrafo já verificou, as palavras realmente proferidas por Castro e Almeida foram as seguintes:
“E vocês veem – não é uma questão de estrangeiros -, podem circular por Lisboa para jantar fora a uma sexta, ou sábado de manhã, podem circular pela rua, e continuamos a ver as pessoas com um nível de um padrão de consumo, classe média e média-alta, relativamente elevado face ao histórico e à situação em que está a economia. Isto tem a ver com os níveis de poupança também que foram acumulados durante a pandemia.”
Da análise do discurso resulta que Castro e Almeida não se referia à globalidade dos portugueses, mas sim às classes média e média-alta. As afirmações são uma pequena passagem de uma intervenção mais alargada, em que o presidente do Santander Totta disse, entre outras coisas, que o Santander não regista muitas restruturações dos créditos, nomeadamente por causa do “baixo desemprego” e porque “quem está a sofrer mais com o agravamento do custo de vida são as classes mais baixas e essas não têm tanto crédito à habitação”.
Falando sobre as classes média e média alta, Castro Almeida admitiu que “há pessoas com dificuldades financeiras, mas não passam fome” e uma das manifestações visíveis desse facto será a circunstância de não terem alterado radicalmente os seus padrões de consumo – e é neste contexto que surge o exemplo dos “jantares à sexta-feira à noite”.
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Avaliação do Polígrafo:
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