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| - O vídeo tem cerca de três minutos e mostra uma pessoa a retirar um teste de antigénio à Covid-19 do invólucro e a colocá-lo sob uma torneira a pingar. Algumas gotas de água caem diretamente no local onde se deve colocar a amostra a ser testada e, em pouco tempo, aparecem no dispositivo dois traços vermelhos, o que significaria um resultado positivo.
Não é a primeira vez que são partilhados vídeos nas redes sociais nos quais são realizados testes de antigénio à Covid-19 utilizando diferentes substâncias. O Polígrafo já explicou anteriormente qual a razão para os testes de antigénio apresentarem um resultado aparentemente positivo perante uma amostra de Coca-Cola ou amostras de geleia.
À semelhança do que acontece com a Coca-Cola, também no caso da água da torneira há uma falha crucial: a amostra não passa pelo líquido que acompanha o teste – chamada solução tampão – que tem como objetivo estabilizar o pH. Este passo não é concretizado no teste apresentado no vídeo.
“A água da torneira é uma água tratada com hipoclorito de sódio, que tem um pH mais ácido. O teste deve ser feito com pH entre os 7,5 e os 8“, explica ao Polígrafo o diretor dos laboratórios de análises clínicas Germano de Sousa.
O teste não está minimamente preparado para estar em contacto com os componentes químicos que fazem parte da desinfeção da água.
Em Lisboa, por exemplo, a Empresa Portuguesa das Águas Livres (EPAL) – responsável pela gestão e tratamento de água no concelho – efetua um processo de tratamento que inclui “pré-oxidação com cloro gasoso, coagulação/floculação, decantação, filtração, correção de pH e desinfeção final”. No folheto sobre a qualidade da água é ainda referido que o valor médio de pH da água é de 8,1, mas que o valor pode variar entre os 6,5 e os 9,5.
No caso dos Serviços Intermunicipalizados de Água e Saneamento de Oeiras e da Amadora (SIMAS), a empresa que opera nesses dois concelhos, o pH da água varia igualmente entre 6,5 e 9.
Além da questão do pH, Germano de Sousa sublinha que “o teste não está minimamente preparado” para estar em contacto com os componentes químicos que fazem parte da desinfeção da água. “O teste está preparado para as secreções que não têm hipoclorito de sódio. Estas não têm nada do que é colocado na água [para a desinfetar], para a conseguirmos beber sem bactérias”, esclarece.
“Os componentes podem interferir na reação e a reação deixa de se dar da forma que gostaríamos que se desse. Passa a libertar todos os marcadores que dão a cor e que vão fixar- se a tudo o que encontram, dando origem às duas linhas“, acrescenta ainda Germano de Sousa.
Também Maria Beatriz Tomaz, farmacêutica especialista em análises clínicas e genética humana e diretora dos laboratórios Beatriz Godinho Saúde, identifica vários erros técnicos na realização deste teste, entre ele a colocação de gotas em excesso no local da amostra e o facto de a plataforma da reação estar inclinada durante o procedimento.
“Os dispositivos médicos só devem ser usados para o fim a que se destinam e de acordo com as instruções inscritas na bula”, afirma a farmacêutica, acrescentando que “estes testes não estão validados para outros fluídos orgânicos ou qualquer outro tipo de líquidos, como a água”.
Em conclusão, o teste apresentado no vídeo foi realizado de forma incorreta e falta um passo importante que equilibra o pH da amostra, para que possa ser lido pelos identificadores. Além disso, a água da torneira é tratada e desinfetada, para ser segura para consumo humano, utilizando componentes para os quais o teste não está preparado. Ao utilizar água como amostra, os componentes do teste são destruídos e daí resulta um falso positivo.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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