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| - O que estão compartilhando: que a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) teria doado US$ 500 mil para a empresa Smartmatic. Ainda segundo as postagens, a empresa teria sido a responsável por fornecer as urnas eletrônicas utilizadas na eleição presidencial brasileira de 2022.
O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. A Smartmatic atuou nas eleições brasileiras de 2012, 2014 e 2016. A empresa não forneceu urnas ou atuou no desenvolvimento do software dos aparelhos -- esta última é tarefa exclusiva da justiça eleitoral. A empresa não prestou serviços para o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em 2022.
A USAID investiu US$ 500 mil para ajudar a Comissão Eleitoral Central (CEC) da Bósnia e Herzegovina a testar novas tecnologias de votação nas eleições municipais de 2024. A Smartmatic foi contratada pela organização Democracy International para participar do projeto. Não há relação com as eleições brasileiras.
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Saiba mais: postagens virais nas redes sociais repercutem alegações já desmentidas de que a eleição presidencial brasileira de 2022 teria sido fraudada. Os conteúdos mencionam a empresa Smartmatic e destacam que ela teria recebido financiamento da USAID.
Smartmatic não atuou nas eleições de 2022
A Smartmatic é uma multinacional especializada em soluções tecnológicas, tendo como um dos ramos de atuação os projetos eleitorais. A empresa já celebrou contratos com o TSE para as eleições brasileiras de 2012, 2014 e 2016.
Nestes pleitos, a empresa prestou serviço de conexão de dados e voz em Estados isolados do Brasil. Em 2012, a Smartmatic também atuou em serviços de suporte, como manutenção preventiva contínua. Em nenhuma das ocasiões houve atuação para o desenvolvimento da urna eletrônica.
As urnas brasileiras foram projetadas por servidores e técnicos a serviço da justiça eleitoral. A produção dos equipamentos é feita por empresas selecionadas por meio de licitações públicas e de ampla concorrência.
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Em 2020, a empresa mencionada na postagem participou da licitação para a fabricação de urnas. No entanto, o Consórcio SMTT, liderado pela Smartmatic do Brasil, perdeu para a empresa Positivo. À reportagem, a empresa afirmou que não teve participação no processo eleitoral brasileiro em 2022.
O Estadão Verifica consultou a página de assistência estrangeira da USAID para mapear pagamentos feitos pela agência ao Brasil. Não foi localizado nenhum valor destinado à Smartmatic para as eleições brasileiras de 2022 (confira aqui).
USAID financiou projeto nas eleições da Bósnia e Herzegovina, em 2024
As postagens desinformativas tiram de contexto o investimento de US$ 500 mil da USAID para dar apoio à Comissão Eleitoral Central (CEC) em testes de novas tecnologias eleitorais para o pleito municipal de 2024 da Bósnia e Herzegovina.
Esse projeto teve o objetivo de preparar o país para aplicação em larga escala de tecnologia nas eleições gerais de 2026. Ele envolveu o teste de scanners ópticos que transmitiam diretamente os resultados em 145 seções eleitorais nos municípios de Vogošća, Tuzla, Visoko, Stolac, Novi Grad e Prijedor. Os scanners foram fornecidos pela Smartmatic.
A Smartmatic disse ao Estadão Verifica que foi contratada pela Democracy International, e não pela USAID. “Tanto o contrato como o processo de seleção foram acordados, assinados e conduzidos pela Democracy International”, informou, em nota à reportagem.
As eleições locais do país foram observadas pelo Congresso das Autoridades Locais e Regionais do Conselho da Europa. A missão envolveu 25 observadores parlamentares de 20 países. As mudanças eleitorais foram ressaltadas positivamente pela instituição, que, por outro lado, lamentou o baixo engajamento dos cidadãos no pleito.
Onda desinformativa sobre a USAID
A campanha de desinformação sobre a agência de assistência humanitária dos Estados Unidos ganhou tração após os ataques do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e do bilionário Elon Musk. A crise foi iniciada após representantes do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE), chefiado por Musk, terem o acesso negado a documentos confidenciais por dois altos funcionários da USAID.
O bilionário chamou a organização de “criminosa”, enquanto Trump disse que a agência é “administrada por lunáticos radicais de esquerda”. Desde então, a nova gestão tem atuado para acelerar o processo de desmonte da USAID.
No Brasil, postagens desinformativas usam a polêmica para acusar, sem provas, o processo eleitoral de 2022 de fraude. O deputado federal Gustavo Gayer (PL-GO) publicou um vídeo em seu canal no YouTube no qual diz que “a USAID usou a Smartmatic para manipular a eleição na Bósnia com urnas eletrônicas”. Ele questiona: “Qual é a empresa que fornece urnas eletrônicas para o Brasil?”
Como já explicado anteriormente, a Smartmatic não forneceu e nem fornece os aparelhos de votação no País. Questionado pela reportagem, Gayer enviou dois links da Smartmatic (aqui e aqui) e disse que a empresa já esteve, sim, envolvida nas eleições brasileiras. As fontes mencionadas pelo deputado reforçam o que foi explicado pelo TSE: a empresa atuou apenas nos pleitos de 2012, 2014 e 2016. Em nenhuma dessas ocasiões a Smartmatic forneceu urnas eletrônicas.
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