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| - Numa fase em que a Índia é apontada como um dos países mais atingidos pela Covid-19, a conta de Facebook do partido Ergue-te! compara a situação do país asiático com a de Portugal.
“Esta publicação não se destina a informar sobre a Covid. Destina-se a perceber a comunicação social dominante”. Sob este mote, a publicação apresenta números absolutos de infetados e mortes devido à pandemia e também em correlação com a cifra das respetivas populações. A terminar o post, vemos a inscrição da mensagem “PANIC”, inserida numa imagem que parece simular um botão.
Apesar da enorme diferença entre Portugal e Índia na monitorização da doença, os números da pandemia apontados correspondem aos oficiais (aludindo à véspera da publicação, dia 17 de maio e as populações portuguesa e indiana indicadas também estão próximas da realidade (abaixo, em ambos os casos, entre 1 e 2 por cento).
Quanto à unidade de referência (por milhão de habitantes), não é a usada pelas instituições da área da saúde que organizam e divulgam os dados – como a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou o Centro Europeu de Controlo de Prevenção e Controlo das Doenças -, que utilizam a unidade antecedente em escala de grandeza (por cem mil habitantes) por implicar uma menor distorção.
Mas a situação portuguesa é tão ou mais grave do que a indiana como é sugerido pela publicação?
A análise dos números recentes da pandemia em Portugal e na Índia, por oposição ao balanço feito desde o surgimento da doença (primeiro trimestre de 2020), evidencia uma perspetiva comparativa bem diferente entre os dois países.
Mesmo recorrendo à unidade de referência escolhida pela publicação no Facebook aqui verificada (que tende a aproximar universos muito distintos) e utilizando os dados populacionais por mencionados, é percetível que a comparação entre Portugal e a Índia, no momento atual, quanto à Covid-19, é substancialmente diferente daquela que decorre da apreciação dos números globais, com o acumulado desde o início da pandemia.
Esta é a estatística da Direção-Geral da Saúde e da Organização Mundial da Saúde em relação, respetivamente, a Portugal e à Índia, entre os dias 6 de abril e 10 de maio deste ano:
Número de casos:
Portugal
6 de abril – 824.368
10 de maio – 839.740
15.372 – Novos casos
1.537 – Casos/milhão de habitantes
+ 1.9%
Índia (estatísticas OMS)
6 de abril – 11.337.303
10 de maio – 22.662.575
11.325.272 – Novos casos
8.207 – Casos/milhão de habitantes
+ 99,9%
Número de mortes:
Portugal
6 de abril – 16.887
10 de maio – 16.993
106
10,6 – Mortes/milhão de habitantes
+ 0.63%
Índia
6 de abril – 145.107
10 de maio – 246.116
101.009
73,2 – Mortes/milhão de habitantes
+ 69.6%
No último mês, o aumento de casos e de óbitos por Covid-19 na Índia é exponencial, enquanto em Portugal o crescimento é residual. Neste período, o número de infetados e de mortes por milhão de habitantes na Índia é, respetivamente, cinco e sete vezes superior ao de Portugal.
Em suma, os números apresentados pelo Ergue-te! são verdadeiros mas o conceito de pânico que associa à publicação daqueles dados é aplicável apenas à situação pandémica descontrolada na Índia (com agravamentos dos registos de doença e óbito de quase 70 e 100 por cento), bem diferente da portuguesa (valores homólogos não superiores a dois por cento).
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Avaliação do Polígrafo:
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