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  • O que estão compartilhando: sequência de vídeos mostra encontros entre dois cursos d’água. De um lado, a água é azulada, e do outro, marrom. Em uma das cenas, uma pessoa mistura o que seriam as águas dos dois lados diferentes, demonstrando que elas se separam. A legenda da postagem questiona: “por que o oceano Pacífico e o Atlântico não se misturam?” O Estadão Verifica investigou e concluiu que: é falso. As águas dos dois oceanos se misturam, sim. A Associação Brasileira de Oceanografia (Aoceano) informou que não há diferenças entre as águas do Pacífico e do Atlântico. O que difere os dois oceanos são seus nomes e os movimentos de correntes marítimas, que ocorrem devido às formações geológicas. Não foi possível identificar onde todas as imagens mostradas na postagem foram gravadas, mas ao menos um dos vídeos é da China. Ele aparece em uma postagem no YouTube do jornal chinês China Daily, com a legenda “Onde o rio Amarelo encontra o mar: uma visão mágica”. Em outros trechos do conteúdo, é possível ver uma embarcação com bandeira chinesa. De acordo com a Aoceano, de fato o fenômeno registrado no vídeo aparenta ser um encontro de água do mar (água salgada) com a foz de um rio (água doce). Isso não ocorre na confluência entre os oceanos Atlântico e Pacífico, pois não há grandes rios que aportem entre eles. Saiba mais: por meio de busca reversa de imagem (aprenda a fazer aqui) foi possível identificar a origem de uma das gravações, publicada em agosto do ano passado pelo veículo China Daily. O vídeo foi registrado no encontro entre o rio Amarelo e o mar Bohai, à altura de Dongying, na província de Shandong, no leste chinês. No conteúdo checado, o encontro entre o rio e o mar aparece espelhado (com as imagens invertidas). A mão que mistura as duas águas diferentes em um tubo não aparece. Outra gravação publicada em 2023 pelo People’s Daily Online, o jornal oficial do Partido Comunista da China, mostra a existência de uma divisão entre as águas. Uma reportagem do Global Times sobre a proteção do rio mostra uma imagem onde é possível ver a diferença de cores. Conforme a Aoceano, que analisou as imagens, a água de tom marrom que aparece nas imagens aparenta ter alta carga de sedimento em suspensão, o que indica ser a água de um grande rio. O fenômeno que aparece no vídeo ocorre, por exemplo, em diversos pontos da costa brasileira de Norte a Sul, onde os encontros acabam revelando diferenças nas tonalidades e nos aspectos das águas. Como exemplo, a associação cita as plumas e os sedimentos que são observados na foz dos rios Amazonas, Mearim, Parnaíba, Doce, Itajaí-Açu, assim como na Lagoa dos Patos. As plumas fluviais são meios de transporte de sedimentos, nutrientes e até poluentes do continente para o oceano. Fenômeno semelhante, segundo a entidade, pode ocorrer no encontro entre dois rios. “O cenário filmado em muito lembra o famoso encontro das águas localizado na frente da cidade de Manaus, entre os rios Negro e Solimões, uma das principais atrações turísticas da capital amazonense”, diz nota da associação enviada ao Verifica. O texto acrescenta que esse fenômeno também ocorre em outras cidades do Brasil, como em Santarém, no Pará, com o encontro das águas dos rios Tapajós e Amazonas; em Tefé, no Estado do Amazonas, entre os rios Tefé e Solimões; e em Tapauá, Amazonas, com o encontro dos rios Purus e Ipixuna. Leia mais: Oceanos se misturam A revista científica Live Science analisou outras imagens com encontros de águas em tonalidades diferentes que circulam na internet. De acordo com a publicação, em alguns pontos de encontro entre o Pacífico e o Atlântico, na ponta sul da América do Sul, pode haver linhas com pequenas diferenças de tonalidades, às vezes imperceptíveis a olho nu. Essas linhas são causadas por diferença de salinidade ou temperatura, por exemplo, mas as águas permanecem separadas apenas por um tempo, se misturando em seguida. Conforme a revista, os dois oceanos estão constantemente se misturando em velocidades diferentes e em lugares diferentes. O site destaca, ainda, que as águas também se misturam nas profundezas do oceano, movidas pelas marés diárias. Em 2021, ao lançar o relatório da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável, a Organização das Nações Unidas (ONU) adotou o termo “oceano” no singular com a finalidade de reforçar a importância de se pensar em um “oceano global”, considerado o maior bioma do planeta. O conteúdo aqui verificado também foi checado por Reuters e Polígrafo. Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.
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