schema:text
| - Os cravos vermelhos são hoje símbolo da liberdade porque a 25 de Abril de 1974, durante do golpe de Estado que pôs fim à ditadura em Portugal, Celeste Caeiro distribuiu estas flores aos militares que se encontravam na rua a fazer a revolução. No entanto, um longo texto publicado no Facebook vem alegar que esta história não passa de uma “mentirola de Abril”.
Segundo a publicação, “no dia 22 de abril de 1974, entra no Tejo uma esquadra da NATO, incluindo um porta-aviões e dois navios de guerra eletrónica, o USS Warrior e o Iate Apollo” e “na noite desse dia, descarregam cerca de trinta contentores no porto de Lisboa, cheios de cravos vermelhos da América do Sul”.
O autor do texto sublinha ainda que “na madrugada do dia 25/4, uma frota de camiões da NATO distribuiu esses cravos por várias unidades militares revoltosas, para que os soldados os colocassem nos canos das armas”. O objetivo, assegura, seria “indicar às forças «amigas» (da banca internacional) que estava tudo bem, e que o golpe era controlado por «eles»”.
Esta tese tem algum fundamento?
O Polígrafo falou com três historiadores e todos declaram desconhecer esta teoria alternativa sobre a origem dos cravos de Abril. O primeiro a afirmá-lo é o historiador Rui Bebiano que, além de estudar o período revolucionário, viveu esta altura da História do país na condição de militar, já que esteve no exército entre 1973 e 1975.
“Jamais ouvi falar da presença desses navios em Lisboa na altura da Revolução do 25 de abril. Tanto quanto sei e é certo, existiu, sim, um navio de guerra da Marinha Portuguesa no Tejo, a fragata Gago Coutinho, então comandada por António Seixas Louçã – pai de Francisco Louçã – que recebeu ordens para disparar sobre as tropas no Terreiro do Paço, mas não executou essa ordem”, sustenta.
Por isso, garante, “a existência desses contentores em navios imaginários é uma perfeita mentira, sem o menor fundamento ou testemunho comprovativo”.
Noutro plano, o historiador confirma a veracidade da história de Celeste Caeiro que distribuiu cravos pelos militares e acrescenta que “só assim se compreende a profusão dessas flores entre as tropas sublevadas”. Rui Bebiano lembra “que esse gesto foi depois replicado por outras pessoas, inclusive por particulares,” e que “o mesmo aconteceu de seguida, com cravos usados em cidades, vilas, aldeias e recantos de todos o país”.
O historiador recorda ainda que Celeste Caeiro “foi por diversas vezes entrevistada e repetiu sempre a mesma versão”, tal como se pode confirmar neste vídeo divulgado pela Câmara Municipal de Lisboa.
Contactado pelo Polígrafo, o historiador Manuel Loff confirma não existir “nenhum registo” histórico de uma esquadra da NATO em Portugal a 22 de Abril de 1975. O professor da Universidade do Porto considera que esta teoria alternativa é “disparatadíssima”.
No mesmo plano, a historiadora Irene Flunser Pimentel garante nunca ter ouvido esta teoria e afirma conhecer apenas “a versão da Celeste, que deve ser verdadeira”.
Em suma, a tese apresentada na publicação não tem qualquer fundamentação histórica, pelo que a informação nela partilhada é falsa.
______________________________
Avaliação do Polígrafo:
|