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  • O formato digital de música mais popular, o mp3, é o resultado de um conjunto de felizes acasos. Tudo começou em Nova Iorque, com uma estudante – depois rececionista – que viria a tornar-se uma cantora/compositora mundialmente conhecida. “Tive a ideia para ‘Tom’s Diner’ em 1981, mas só a escrevi na primavera de 1982. Quando frequentava o Barnard College, em Manhattan, tinha o hábito de ir ao Tom’s Restaurant tomar café e depois de concluir os estudos também passava por lá antes de ir para o trabalho.” Estas são as origens de uma canção que estaria no epicentro de uma verdadeira revolução no mundo da música. É o primeiro “acidente”., relatado pela autora, Suzanne Vega, num texto publicado no “The New York Times”. A canção teria duas vidas – já lá vamos… -, mas é a primeira aquela que maior peso tem na história. O que tem “Tom’s Diner” de tão especial que lhe permitiu conquistar um lugar tão destacado na criação do mp3? É cantada acapella, apenas voz, zero instrumentos. E este é o segundo acidente feliz. Suzanne Vega tinha pensado em gravar a canção acompanhada por piano, mas como não sabia tocar, nem conhecia, na época, ninguém que soubesse, decidiu cantá-la sem o apoio de qualquer instrumento. Começou nos concertos e acabou por gravá-la no seu disco “Solitude Standing”, de 1987, revelou numa atuação na “BBC”. Passamos, agora, para o alinhamento de astros que acabaria por resultar no nascimento do mp3. A milhares de quilómetros de distância, o engenheiro alemão “Karlheinz Brandenburg estava a trabalhar num tipo de compressão digital que pretendia transformar gravações com qualidade de CD disponíveis como ficheiros informáticos”, escreve a “The Atlantic”. Um trabalho que estava a revelar-se frustrante, em especial na compressão da voz humana. Até que, um dia, aconteceu o feliz acidente número 3: “vi um artigo onde se discutiam colunas de som e a forma que os especialistas usavam para testar a qualidade do som: usavam a canção acapella ‘Tom’s Diner’, gravada em CD”, contou num vídeo da “Great Big Story”, uma empresa de media, controlada pela CNN, focada na criação de micro-documentários especialmente feitos para difusão nas redes sociais, em especial o YouTube e o Facebook. E, assim, “Tom’s Diner” tornou-se na cobaia da equipa de Brandenburg. A mãe e o pai do popular formato digital tinham-se “encontrado”… “Acho que ouvi Tom’s Diner 500 vezes? Mil vezes? 3 mil vezes? Já não me recordo, mas foram muitas…”, diz Brandenburg, que explica, de seguida, a importância da canção no processo de desenvolvimento do mp3: “Soava tão mal, na primeira vez que a comprimimos. Conseguimos destruir a voz de Suzanne Vega.” A cantora consegue oferecer-nos uma imagem que nos aproxima ainda mais dos assombrosos primeiros testes, num texto escrito no “The New York Times”: “distorções monstruosas, como se o Exorcista tivesse, de alguma forma, entrado no sistema e cantasse cada frase.” O algoritmo de compressão já estava bem afinado, para a maioria dos instrumentos, mas a voz humana mantinha-se um quebra-cabeças. E foi assim durante “uma ano, mais ou menos”, confessa o engenheiro alemão. Sabia, contudo, que, uma vez ultrapassado este obstáculo, conseguiria comprimir qualquer canção, no futuro. E assim foi. Uma vez afinado ao algoritmo de compressão, sem que a perda de qualidade na voz de Vega fosse perceptível, o formato mp3 foi tornado público. “Tom’s Diner” foi, assim, “a primeira canção a ser transformada em mp3”, sublinha o site “Vox”, que destaca, ainda, a qualidade – ou a falta dela – inerente ao mp3. “O formato mp3 consegue reduzir o tamanho do ficheiro de uma canção em 10 vezes, mas neste processo, algo se perde.” Nada que impedisse o êxito planetário que este formato digital conquistou, originando uma verdadeira revolução na forma como a música é distribuída, provocando um turbilhão nas empresas discográficas, que viram o seu modelo de negócios mudar quase de um dia para o outro. Distribuição e partilha ilegal de música, lutas judiciais pelos direitos autorais e comerciais, perdas de receita colossais para as editoras de música acabaria por resultar numa fórmula totalmente diferente de distribuição e comercialização de obras musicais, com um elemento no centro da revolução: o mp3. O êxito e a longevidade deste formato digital foi celebrado por Brandenburg e a sua equipa, que chegaram mesmo a fazer uma festa para comemorar o 10º aniversário do nascimento do mp3. Questionado sobre se é mesmo verdade que a festa se realizou, o engenheiro contou a história em detalhe à “NPR”. “Houve um momento, em 1994-1995, em que identificámos a internet como o terreno perfeito para a Layer III. Precisávamos de uma extensão para o ficheiro e, em 14 de julho de 1995, decidimos usar a extensão ‘ponto m-p-3’. E, sim, em 2005 houve uma festa de aniversário para o mp3.” Referimos, no início, que a canção “Tom’s Diner teve duas vidas. A primeira, a abrir o alinhamento de “Solitude Standing”, no final dos anos 1980. No arranque da década seguinte renasceria, atingindo o auge de popularidade. A dupla de inglesa DNA pegou na canção de Vega e acrescentou-lhe uma batida dançável. A cantora diz que, quando a ouviu pela primeira vez, a achou “muito divertida e original. E decidimos lançá-la”. Ao contrário das suas expectativas iniciais – “imaginei que iria ter uma audiência de nicho nos clubes noturnos” – a versão dos DNA “acabou por vender 3 milhões de cópias em todo o mundo.” Notável, é verdade, mas não suficiente para ofuscar a relevância que a versão menos conhecida conquistou na história da música. _______________________________ Avaliação do Polígrafo:
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