schema:text
| - “Nós temos a questão do terminal de cruzeiros que foi construído sem contemplar o fornecimento de energia à noite, quando os navios estão estacionados”, começou por explicar a candidata do “Nós Cidadãos” para a corrida à presidência da autarquia lisboeta.
“Os números são verdadeiramente assustadores. Em 2017, Lisboa foi o porto marítimo mais concorrido a nível europeu, com a visita de 115 navios de cruzeiro, que permaneceram estacionados oito mil horas”, indicou Sofia Afonso Ferreira, não tendo ficado por aí. Em 2018, disse, “os navios emitiram 2,9 milhões de toneladas de CO2, valor superior à totalidade das emissões dos automóveis que circulam diariamente nas oito maiores cidades do país, que emitem 2,8 milhões de toneladas [de CO2]”.
Sem indicar, até aqui, fonte para os dados apresentados, os números relativos a 2019 são, segundo Sofia Afonso Ferreira, provenientes de um estudo da Federação Europeia dos Transportes e Ambiente (T&E), que indicou Lisboa como “a sexta cidade europeia mais poluída pelos navios de cruzeiro, ultrapassando a emissão de óxidos de enxofre – emitidos pelos transportes terrestres – em 86 vezes”.
Mais à frente no debate, Manuela Gonzaga, candidata pelo PAN, reiterou as afirmações de Sofia Afonso Ferreira, dizendo que se tratam de “dados importantíssimos”.
Já Fernando Medina fez uso do seu tempo de antena para promover a ideia de “turismo sustentável” e refutar os dados apresentados pela oposição que, ainda que “corretos”, transmitem, segundo o atual presidente e candidato à autarquia de Lisboa, uma ideia errada: “Os números que aqui foram citados estão corretos, mas não substituem os do automóvel. A ideia que muitas vezes é colocada de que a poluição dos cruzeiros é muito maior do que a do automóvel… Não. São gases diferentes, por isso ela acumula. Nós temos que lidar com ambas para termos uma cidade melhor.”
Mas será que o socialista tem razão quando diz que se tratam de “gases diferentes”? E será que Sofia Afonso Ferreira apresentou os dados corretos?
Ao Polígrafo, Francisco Ferreira, presidente da ZERO, confirma a importância dos navios de cruzeiro e aviões na emissão de partículas finas prejudiciais ao organismo. Em matéria de comparações, o ambientalista diz que “há um poluente, que é o dióxido de enxofre, que já surge em concentrações muito reduzidas quer na gasolina quer no gasóleo”, e que “os navios de cruzeiro emitiram 3,5 vezes mais que os automóveis que circulam na cidade”.
A ZERO efetuou ainda uma comparação dos dados do estudo do T&E com o inventário oficial de emissões de óxidos de enxofre (SOx) da Agência Portuguesa do Ambiente, de onde Sofia Afonso Ferreira terá retirado os dados, tendo concluído que “as emissões dos navios de cruzeiro na costa portuguesa foram 86 vezes superiores às emissões da frota automóvel que circula em Portugal (5100 toneladas em relação a 59 toneladas, respetivamente)”.
Quando à emissão de CO2, o estudo da T&E destaca ainda Portugal como tendo emissões anuais de 2,9 milhões de toneladas de CO2, proveniente dos navios que escalam os portos nacionais. Como afirmou Sofia Afonso Ferreira, este valor ultrapassa as emissões conjuntas de todos os automóveis registados em 2013 em Lisboa, Sintra, Vila Nova de Gaia, Porto, Cascais, Loures, Braga e Matosinhos: um total de 2,8 milhões de toneladas.
|