schema:text
| - O músico Caetano Veloso aparece numa imagem ao lado da ex-deputada do Partido Comunista do Brasil, Manuela d’Ávila, a segurar uma t-shirt cor-de-laranja com a pergunta: “Presidente louco, podemos lhe defecar hoje?” A acompanhar a imagem, o utilizador escreve que é esta “a verdadeira face de Caetano”, que “não respeita o povo brasileiro e as suas escolhas”. A imagem — que também foi partilhada em Portugal — motivou apelos de boicote aos espetáculos de Caetano Veloso, mas trata-se de uma imagem que foi adulterada.
A imagem original foi tirada a 8 de fevereiro deste ano e — como é possível verificar no Facebook de Manuela d’Ávila (a publicação ainda está disponível) — a t-shirt não tinha qualquer ofensa ao presidente brasileiro Jair Bolsonaro. O original tinha, de facto, uma mensagem que pode ser entendida como um ataque político ao Planalto, mas não com o nível de vulgaridade da imagem adulterada.
Na t-shirt com que Caetano posou está escrito “Orange is the new Queiroz”. A ideia de Manuela d’Ávila era associar a popular série da Netflix, Orange is the new Black ao “caso Queiroz”. O chamado caso Queiroz — uma das polémicas da governação de Jair Bolsonaro — começou em dezembro de 2018 quando o Conselho de Controle de Atividades Financeiras publicou um relatório com movimentações duvidosas entre janeiro de 2016 e 2017 na conta de Fabrício Queiroz, um polícia militar que, na altura desses movimentos financeiros (no valor de 1.236.838 reais, o correspondente a cerca de 276 mil euros), era motorista e segurança de Flávio Bolsonaro, filho do Presidente.
O mais irónico da história é que a t-shirt foi utilizada para promover o “Instituto ‘E se fosse você?’”, uma organização não governamental que pretende criar conteúdos de “combate a fake news e ódio nas redes” sociais. A própria deputada denunciou na sua conta de Instagram que a imagem é falsa.
A antiga deputada, que tem na sua página de Facebook várias fotografias em que veste t-shirts com frases com mensagens políticas, é regularmente vítima de fake news através da manipulação de imagens daqueles que a esquerda brasileira designa como “bolsominions” (apoiantes de Bolsonaro que defendem o presidente brasileiro com conteúdos nas redes sociais.
É publico que Caetano Veloso, tal como Manuela D’Ávila, são fortes opositores de Jair Bolsonaro e muito críticos da família do Presidente brasileiro. Antes da eleição de Bolsonaro, Caetano chegou a assinar um manifesto contra Bolsonaro, dizendo que este — chegando ao poder — colocaria em causa a “herança civilizacional” do Brasil.
Artistas, intelectuais e empresários divulgam manifesto contra Jair Bolsonaro
Nas eleições, Caetano Veloso apoiou Ciro Gomes (do PDT) na primeira volta e foi um dos impulsionadores do movimento #elenão, que pretendia impedir Jair Bolsonaro de chegar ao Planalto. Além disso, Caetano tem sido bastante crítico da governação de Bolsonaro e até há situações em que, nessa luta, opta pela jocosidade. Aconteceu, por exemplo, quando não conseguiu controlar o riso ao ver a entrevista de Eduardo Bolsonaro à Fox News.
Conclusão
Caetano Veloso é de facto crítico de Jair Bolsonaro desde a primeira hora, mas nunca segurou uma t-shirt a sugerir que se defecasse no presidente brasileiro. O músico foi vítima de uma montagem de uma fotografia que tinha tirado em fevereiro com a antiga deputada Manuela d’Ávila. A t-shirt na imagem original também tinha uma mensagem crítica ao Planalto, mas não era uma vulgaridade.
No sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
Errado
No sistema de classificação do Facebook este conteúdo é:
FALSO: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de factchecking com o Facebook e com base na proliferação de partilhas — associadas a reportes de abusos de vários utilizadores — nos últimos dias.
|