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| - “As pessoas nos estudos e todos os injetados são agora organismos geneticamente modificados. E isso é porque o mRNA do vírus está no seu corpo. Nós não sabemos, não é ainda conhecido se esse mRNA se integra nos genes, nos cromossomas, mas deve integrar. É por isso que causa tantas mortes”, afirma Dolores Cahill, no decurso do vídeo.
Questionada pelo Polígrafo, Alexandra Moreira, investigadora do Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar e do Instituto de Investigação e Inovação em Saúde, assegura que “nós não somos geneticamente modificados pela vacina. O mRNA nunca vai integrar o DNA. O DNA está compactado nos cromossomas, é aí que está a nossa informação genética, mas o mRNA é um outro módulo completamente diferente e não vai integrar o nosso DNA. Não vamos ser organismos geneticamente modificados de forma nenhuma”.
Por sua vez, Francisco Dionísio, coordenador do curso de Biologia Molecular e Genética da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, aponta no mesmo sentido: “O mRNA não se transforma em DNA e depois não se integra no nosso genoma. Isso só acontece com vírus chamados retrovírus, como por exemplo o do HIV. Para isso acontecer, é preciso que o vírus leve consigo genes que fazem essa passagem de RNA para DNA. O SARS-CoV-2 não é um retrovírus“.
Mais, Dionísio sublinha que, no caso das vacinas, nem sequer é utilizada a componente genética do vírus inteiro, mas apenas uma pequena parte, suficiente para que seja criada uma proteína existente na espícula do novo coronavírus que irá ativar o sistema imunológico. “Não tem o RNA do vírus inteiro”.
Segundo Moreira, o que as vacinas fazem “é introduzir um mRNA que tem só um bocadinho da informação genética do vírus, que permite fazer uma proteína da espícula defeituosa. Nem sequer é a proteína normal”. Essa informação é lida pelo organismo do indivíduo que “vai traduzi-la numa proteína da espícula anormal e o sistema imunitário vai reconhecer a proteína e vai produzir uma resposta imune“.
Ora, um organismo geneticamente modificado implicaria alterar a composição do DNA de forma artificial. “O que acontece com organismos geneticamente modificados é que nós modificamos o DNA do organismo, mesmo com tesouras. É corte e costura. Aqui não. Estamos a falar de uma coisa completamente diferente. A entidade, por si, quimicamente, é diferente, não vai integrar o DNA”, conclui a investigadora.
Outra alegação patente no vídeo é que a vacina contra a Covid-19 provoca doenças auto-imunes, isto é, quando o sistema imunológico ataca as próprias células e tecidos do corpo. Cahill afirma que as vacinas “estimulam o seu sistema imunológico a ter doenças auto-imunes de baixo grau, não é imunidade, mas para você mesmo, porque o mRNA expressa uma proteína viral, você faz de si mesmo um organismo geneticamente modificado. Então o sistema imunológico foi feito para expulsar o vírus, ou bactéria, mas vocês está, na verdade, vendo-o no seu corpo, nas suas células, a doença auto-imune está atacando em baixo grau”.
Em declarações ao Polígravo, Luís Graça, imunologista e investigador no Instituto de Medicina Molecular da Universidade de Lisboa, esclarece que “não há nenhuma evidência de que isso acontece” e salienta que o processo de imunização utilizado para as vacinas é muito semelhante ao de uma doença viral.
“Sempre que nós somos infetados por um vírus – nomeadamente quando nos constipamos -, há material genético do vírus que é introduzido nas nossas células. Os vírus não conseguem sobreviver sem ser nas nossas células”, exemplifica, ressalvando que “isso não quer dizer que esse material genético entre no nosso genoma“.
“Nas vacinas de mRNA acontece exatamente a mesma coisa, ou seja, o material genético que está na vacina é introduzido em algumas das nossas células – não todas, só no local da injeção – e essas células produzem proteína do vírus da mesma maneira que acontece quando há uma constipação e o vírus infeta as nossas células”, descreve o imunologista. Quando as células começam a produzir proteínas dos vírus, o nosso sistema imunológico é ativado e reage ao vírus que está na célula. “Em poucos dias isto tudo desaparece e volta ao normal“.
A injeção de material genético no corpo não é um exclusivo das vacinas de mRNA. Também as vacinas tradicionais de adenovírus – como é o caso da vacina da AstraZeneca – carregam parte da informação genética do coronavírus. “Todas as vacinas têm uma coisa em comum: elas precisam de colocar no nosso organismo proteínas do agente infecioso, neste caso proteínas do vírus, e isto é comum. Isso pode ser feito introduzindo proteínas diretamente – e há vacinas, como a da hepatite B, por exemplo, que têm proteínas do vírus que são administradas -, ou material genético do vírus, que pode ser feito com o próprio vírus ou com o RNA”, conclui.
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Avaliação do Polígrafo:
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