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| - Foi logo na abertura da “Circulatura do Quadrado“. Lobo Xavier fez questão de, na sua primeira intervenção, arrasar o Governo por causa da polémica das nomeações de familiares para cargos políticos. O comentador, que começou por dizer que não gosta de “temas populistas”, justificou a sua iniciativa com a “dimensão” que o caso alcançou. “Há inúmeras relações no Governo, ou na órbita do Governo (…) As nomeações são feitas num círculo muito pequeno”, afirmou, para de seguida dar o exemplo da mulher de Pedro Marques como um dos casos da alegada promiscuidade em curso.
Sentado à sua frente, Jorge Coelho reagiu de imediato: “Eu nunca vi nada na família do Pedro Marques e custa-me a crer [que seja verdade].” Ao que Lobo Xavier retorquiu que era mesmo assim e que ouvira a descrição do caso num podcast do Publisher do jornal Observador, José Manuel Fernandes, em que o jornalista aborda o tema em causa.
Problema: Lobo Xavier terá interpretado mal as palavras de José Manuel Fernandes, tendo muito provavelmente confundido a mulher de Pedro Nuno Santos, o homem que sucedeu a Pedro Marques na pasta das Infraestruturas, com a de Pedro Marques. É que se a primeira foi efetivamente nomeada recentemente chefe de gabinete do secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, a segunda nada tem (nem alguma vez teve) a ver com a esfera da política.
O Polígrafo contactou Pedro Marques, cabeça de lista do Partido Socialista às eleições europeias, que respondeu através de um depoimento escrito assinado pelo seu assessor de imprensa, José Pedro Pinto: “A mulher de Pedro Marques é uma ilustre desconhecida, de 43 anos. Tirou o curso de Economia no Instituto Superior de Economia e Gestão (ISEG). Começou a trabalhar em 1999 na Direção-Geral de Alfândegas e Impostos Especiais Sobre o Consumo, hoje Autoridade Tributária e Aduaneira. Não é, nunca foi, chefe de gabinete de rigorosamente ninguém.”
Pedro e Cecília Seixas Pedrosa conheceram-se na faculdade, onde começaram a namorar. Terminado o curso, seguiram caminhos profissionais diferentes, que os levariam a ocupar cargos e posições em nada relacionados. Cecília fez – ainda faz – carreira na função pública; Pedro Marques, por seu lado, notabilizou-se como secretário de Estado de Vieira da Silva no Ministério da Segurança Social entre 2005 e 2011, nos dois governos liderados por José Sócrates).
Depois da queda do Executivo socrático, Pedro Marques fez-se eleger deputado nas listas do Partido Socialista por Portalegre. Cumpridos os quatro anos de governação PSD/CDS, aconteceu o que se sabe: depois de se entender com o Bloco de Esquerda e com o Partido Comunista Português, António Costa formou o seu Governo – e nele, em lugar de grande destaque, surgiu Pedro Marques. Com 39 anos foi nomeado ministro do Planeamento e das Infraestruturas. Neste momento, passados pouco mais de três anos, é cabeça de lista do PS às eleições europeias.
Ao contrário do marido, que não se incomoda com as luzes dos holofotes, Cecília Seixas Pedrosa é conhecida por ser uma pessoa discreta, uma técnica da Autoridade Tributária, onde tem estado envolvida em importantes operações.
A última foi amplamente noticiada nos media nacionais: a Operação Pangea XI, uma mega-ação policial que decorreu em 116 países, entre 9 e 16 de outubro de 2018, dedicada ao combate aos medicamentos falsificados comprados através da Internet. Ao todo, foram detidas 859 pessoas e a apreendidos mais de 10 milhões de unidades de medicamentos falsificados, que valiam mais de 12 milhões de euros. Desses, quase nove mil unidades de medicamentos (8.886) foram apanhadas nas fronteiras portuguesas, numa operação que esteve a cargo do Infarmed e da Autoridade Tributária e Aduaneira.
Nessa altura, Cecília Seixas Pedrosa prestou declarações aos órgãos de comunicação social. Mas não disse a ninguém que o seu marido era o homem que daí a poucos meses seria apresentado por Costa para liderar a lista às europeias.
Avaliação do Polígrafo:
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