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| - O primeiro-ministro esteve ontem na Assembleia da República, naquele que foi o primeiro debate do ano sobre política geral. Em resposta a Adão Silva, deputado do PSD, sobre o aumento do número de infetados por Covid-19 no país, António Costa ressalvou que “sempre disse que era preciso ter a serenidade para ver o que iria acontecer a seguir“, na medida em que a pandemia seria “uma maratona muito dura“.
Na abertura do debate parlamentar, o deputado Adão Silva, do PSD, apontou falhas do Governo na gestão da situação pandémica, dizendo que “longe vão os tempos do tão propalado e correto milagre português“. Em resposta, Costa começou por salientar que “vivemos seguramente um momento dos mais tristes, de maior dor e sofrimento e a solidariedade que devemos para com cada uma das famílias enlutadas, para com cada um dos doentes infetados, para com aqueles que estão neste momento isolados profilaticamente, é aquilo que nos deve impelir a todos a procurar encontrar as melhores respostas para enfrentar esta pandemia”.
Após essa primeira nota, Costa refutou a ideia de optimismo precipitado ou infundado relativamente à pandemia, assegurando que “quando a imprensa estrangeira e até o nosso Presidente da República se referiam ao milagre português, sempre disse que era preciso ter a serenidade para ver o que iria acontecer a seguir. Porque esta pandemia não tinha vindo para 15 dias, não tinha vindo para três meses… Era mesmo uma maratona, que é a expressão que eu tenho utilizado. E é uma maratona muito dura“.
Mais à frente no debate, Costa voltaria a apontar no mesmo sentido, dizendo que sempre teve “a noção muito clara de que esta maratona duraria muito mais do que os 42 quilómetros habituais”.
Um artigo da revista alemã Der Spiegel e um discurso de Marcelo Rebelo de Sousa, ambos datados de abril de 2020, comprovam parte da declaração em causa do primeiro-ministro. O Presidente da República afirmou que “estamos a ganhar a segunda fase” de combate à Covid-19 e aludiu ao “milagre português” da seguinte forma: “Se isto é um milagre, o milagre chama-se Portugal“. A revista alemã dedicou um artigo ao suposto “milagre português” na gestão da pandemia.
E quanto a Costa, alinhou então pelo mesmo diapasão? Também em abril de 2020, ao ser entrevistado num programa de entretenimento da TVI, o primeiro-ministro sublinhou que “o optimismo não prescinde do realismo“, avisando que ainda não via a luz ao fundo do túnel no que respeita à pandemia. “Há uma coisa que todos nós sabemos: do outro lado do túnel há luz e temos de percorrer este túnel e, quanto mais disciplinados formos agora, mais depressa chegamos ao fim do túnel. Mas, para sermos realistas, acho que não é possível ver ainda a luz ao fundo do túnel“.
Cerca de quatro meses depois, na abertura da Conferência Nacional do PS, em Coimbra, Costa voltou a defender a mesma ideia: “Muitos acreditaram que a Covid-19 desaparecia se estivéssemos 15 dias em estado de emergência e nos fechássemos em casa, mas já percebemos que não é assim. Esta é uma maratona do ponto de vista sanitário. Mas é também uma maratona dos pontos de vista económico e social”.
Pouco tempo depois, em setembro de 2020, numa declaração ao país após reunião do Gabinete de Crise para a Covid-19, Costa mantinha a convicção: “Como eu tenho dito várias vezes, isto não é uma corrida de 100 metros. Isto vai ser uma longa maratona e não sabemos quantos quilómetros vai durar”.
Este discurso manteve-se até hoje. Prova disso é a conferência de imprensa conjunta do primeiro-ministro e da presidente da Comissão Europeia, no dia 15 de janeiro de 2021, em que Costa repetiu novamente a mesma frase: “Temos que perceber, como eu muitas vezes tenho dito, e quero insistir nesta expressão, isto não é uma corrida de 100 metros. Isto é uma maratona, mas as maratonas também se ganham, desde que se corram os 42 quilómetros”.
Confirma-se assim que é verdade, Costa alertou desde o início da pandemia que seria “maratona muito dura”. Aliás, repetiu essa expressão em várias intervenções ao longo de 2020, mesmo quando os números de novos casos diários estavam em fase decrescente.
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Avaliação do Polígrafo:
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