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| - Se para André Ventura os refugiados e os beneficiários de Rendimento Social de Inserção (RSI) são uma das grandes preocupações que o país deveria colocar na sua agenda, Francisco Rodrigues dos Santos parece pensar de forma diferente. Ou pelo menos frente ao líder do Chega.
Foram tantas as divergências que o debate transmitido esta quarta-feira, na CNN Portugal, acabou por se tornar numa longa sequência de insultos e ataques trocados entre os dois líderes da direita. Rodrigues dos Santos teve oportunidade de se distanciar do “populista” Chega e agarrou-a. Falou em misoginia, racismo, RSI e refugiados, num tom aceso que Ventura devolveu ao adversário nas respostas.
“Os temas do André Ventura são a castração química, a pena de morte, a perseguição de etnias. Oiça, sabe quantos portugueses recebem RSI? 0,02% da população, são 2% [ou 12%, não é inteiramente perceptível no registo áudio] dos portugueses. O André Ventura fala nos refugiados… Portugal nem preencheu as quotas de imigração para refugiados. André Ventura vive num mundo paralelo, exorciza os medos, para ser ouvido”, acusou Rodrigues do Santos.
“Sabem o que é o André Ventura dizia a 7 de dezembro de 2015, sobre os refugiados? Que a Europa não podia fechar as portas e tinha que responder à sua tradição de acolhimento daqueles que mais precisam. Hoje diz que não, que são ‘bandidos‘, que vêm com telemóvel”, rematou.
Mas será que as contas do líder do CDS-PP estão corretas? Comecemos pelo RSI.
Numa clara intenção de desmontar os mitos propagados em torno deste rendimento que abrange uma pequena parte dos portugueses, Rodrigues dos Santos começou por se enganar na percentagem de beneficiários de RSI – “0,02% da população” -, mas logo a seguir apontou para a percentagem correta de “2% dos portugueses”. De facto, os últimos dados indicam que dois em cada 100 portugueses recebe essa prestação social.
De acordo com os dados inscritos nas sínteses estatísticas da Segurança Social, em novembro de 2021 eram 206.876 os beneficiários de RSI em Portugal. Ora, segundo os últimos Censos, o país tem um total de 10.344.802 habitantes. Contas feitas, apenas cerca de 2% da população portuguesa recebe RSI. A imprecisão do líder centrista (referiu primeiro “0,02%”) pode ser entendida como um lapso, involuntário, pois o objetivo das declarações citadas era claro: demonstrar que o RSI não é um problema real em Portugal, já que os seus beneficiários são poucos, uma pequena parte da população.
Ainda antes de desmontar o conceito de “subsidiodependência“, propalado por Ventura, o líder do CDS-PP fez questão de referir que, quanto aos refugiados, o adversário pode estar descansado, na medida em que Portugal nem sequer “preencheu as quotas de imigração” da União Europeia.
Ora, embora esta quota comunitária de acolhimento de refugiados tenha sido afastada pelo novo Pacto para as Migrações e Asilo, proposto em 2020 e estabelecido em 2021, a verdade é que, enquanto esteve ativa, não foi cumprida pela maior parte dos países. Inclusive Portugal.
Segundo um comunicado oficial do Governo, de 13 de março de 2021, Portugal “foi o 6.º país europeu que mais refugiados acolheu ao abrigo do Programa de Recolocação da União Europeia, recebendo 1.550 refugiados vindos da Grécia (1.190) e Itália (360) entre dezembro de 2015 e março de 2018 – os quais foram distribuídos por 97 municípios”. Ainda assim, e para cumprir a quota comunitária estabelecida em setembro de 2015, Portugal deveria ter recebido nesse âmbito 4.486 refugiados. O primeiro-ministro António Costa disponibilizou-se, aliás, para receber mais 5.800 refugiados além da quota comunitária.
De resto, no seu espaço de comentário no jornal “Correio da Manhã”, a 7 de setembro de 2015, Ventura escrevia que “subitamente, a Europa da paz e da prosperidade, mas também a Europa ameaçada pelo desemprego, pelo terrorismo e pela criminalidade violenta, vê-se a braços com um dilema: acolher ou bloquear; receber ou vedar a entrada na fortaleza Schengen“.
“Parece-me evidente que não podemos simplesmente fechar os olhos e virar a cara ao drama humano que representam estes fluxos migratórios desesperados. Tão-pouco podemos impor exclusivamente esse ónus aos países voltados para o Mediterrâneo ou aos Estados mais ricos, como a Alemanha. Países como Portugal e Irlanda, por exemplo, não devem esquecer o seu passado recente de emigração e devem acolher o maior número possível de migrantes“, lê-se no texto escrito por Ventura e intitulado como “Os refugiados e o Mar da Morte“.
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Avaliação do Polígrafo:
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