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| - “Cientistas da UFMG [Universidade Federal de Minas Gerais] desenvolveram vacina contra o vício em cocaína. A droga ainda está na fase de testes em animais, mas promete acabar com a dependência química do crack também”. É desta forma que se inicia um artigo, publicado num site brasileiro, que destaca o desenvolvimento de uma vacina que promete dar resposta à dependência da cocaína e do crack no Brasil.
Na publicação indica-se o número de dependentes brasileiros neste tipo de drogas, dando a entender a urgência da criação de uma vacina que dê resposta a este tipo de comportamentos aditivos: “Estima-se que sejam cerca de mais de 2 milhões de usuários no país (em torno de 1,75% da população adulta), e 29 mil só na capital mineira”, pode ler-se no artigo.
De acordo com o mesmo artigo que está a circular nas redes sociais, a vacina “consiste em uma molécula que estimula a produção de anticorpos contra a cocaína no sistema imunológico. Eles capturam a substância antes de chegar ao cérebro, modificam sua forma e reduzem os efeitos, como a sensação de euforia que vem com a liberação da dopamina, responsável pelo prazer. Sem isso, a vontade de consumir a droga vai diminuindo”.
É verdade que está a ser desenvolvida uma vacina contra a dependência em cocaína?
Sim. A notícia é de 2017 e foi tema de uma reportagem publicada na primeira página do boletim da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). A vacina em causa resultou do trabalho de investigadores do Departamento de Química da Escola de Farmácia e da Faculdade de Medicina da UFMG.
Ângelo de Fátima, investigador do Departamento de Química, explicou que na fase de testes em roedores se chegou à conclusão que menores quantidades da droga chegavam ao cérebro dos animais que foram vacinados: “A indução de anticorpos provocada pela vacina reteve uma quantidade maior da droga no sangue do roedor, não chegando ao cérebro do animal, que é o alvo biológico da cocaína. Conseguimos diminuir os efeitos da droga no animal, alterando o perfil farmacocinético da substância”, pode ler-se na reportagem.
Questionado pelo Polígrafo sobre esta matéria, o especialista João Goulão, diretor-geral do Serviço de Intervenção nos Comportamentos Aditivos e nas Dependências (SICAD), indica que a vacina contra a dependência de cocaína “é um projeto de que já se fala há vários anos“. No entanto, admite desconhecer desenvolvimentos recentes: “É uma linha de investigação que tem vindo a ser prosseguida por vários grupos de investigadores. Só sei que está em desenvolvimento“, conclui.
Nos Estados Unidos da América (EUA) está também em desenvolvimento uma vacina semelhante, conhecida por TA-CD. Contudo, as vacinas americana e brasileira apresentam diferenças estruturais, como aponta Ângelo de Fátima: “As vacinas convencionais, como a anticocaína dos EUA, originam-se de plataforma proteica, que pode ser uma proteína de vírus ou de bactéria. A nossa vacina vale-se de uma plataforma não proteica feita 100% em laboratório”, ressalva.
Em suma, a publicação em análise baseia-se numa notícia verdadeira, mas não é recente (e não há indicação da respetiva data nas publicações e partilhas em massa que estão a ser feitas nas redes sociais) e o facto de a vacina ainda estar em fase desenvolvimento não está devidamente sublinhado, desde logo no título.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Verdadeiro: as principais alegações do conteúdo são factualmente precisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “verdadeiro” ou “maioritariamente verdadeiro” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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