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| - “De que lado parece estar a liberdade?”, questiona a publicação no Facebook, de 15 de agosto. O post indica que a fotografia foi tirada no início da construção do Muro de Berlim, a 13 de agosto de 1961, e que do lado Oriental ou “setor comunista” há uma multidão que observa o que se passa do outro lado, o “setor capitalista”.
Será a fotografia autêntica? E a legenda é precisa ou incorreta?
Há 60 anos, no dia 13 de agosto de 1961, o mundo acordou diferente. Durante a noite, milhares de operários, sob a vigilância de militares, bloquearam em segredo as ruas para erguer o muro de Berlim e arame farpado, tijolos e barreiras ainda provisórias, mais tarde substituídas por betão, dividiram a cidade e também separaram famílias e amigos.
É preciso recuar até ao fim da Segunda Guerra Mundial para compreender o aparecimento de uma fronteira desta natureza no coração da Europa. No fim da guerra, a Alemanha tinha sido derrotada pelos Aliados e foi dividida em quatro setores. Em maio de 1949, as zonas controladas pelos Estados Unidos, França e Inglaterra tornaram-se a República Federal da Alemanha, e em outubro do mesmo ano foi criada a República Democrática Alemã, controlada pela União Soviética. A cidade de Berlim pertencia à RDA, mas também foi dividida em quatro setores.
A separação entre as “duas Alemanhas” existia a vários níveis, desde as diferenças políticas às económicas, passando por ideologias opostas: do lado Ocidental, estava o mundo capitalista, enquanto do lado Oriental dominava o comunismo soviético. Até 1961, a circulação era livre entre ambos os lados, mas tudo terminou em 1961, quando as fronteiras foram encerradas e o muro começou a ser erguido. Aliás, os militares passaram a ter autorização para atirar a matar em quem ousasse fugir para o lado Ocidental e, apesar de não existirem dados definitivos, morreram pelo menos 136 pessoas a tentar atravessar o muro, 97 das quais abatidas pelas tropas da RDA.
A fotografia em análise mostra, de facto, Berlim dividida pelo novo muro. O ano indicado está correto mas a data não está certa e a legenda está trocada, o que passa uma mensagem errada.
A imagem, detida pela Picture Alliance, foi captada pelo fotógrafo Konrad Giehr a 27 de agosto de 1961 e, na realidade, mostra uma multidão de pessoas que estão no lado Ocidental a observar o que se passa do outro lado, onde apenas guardas andam pela rua. Num artigo da Business Insider, que identifica vários monumentos ou construções no passado e na atualidade, publicado a 9 de outubro de 2019, é possível encontrarmos a mesma fotografia do muro com a legenda correta.
Também um artigo da revista norte-americana The Atlantic sobre a história do Muro de Berlim, exibe uma fotografia semelhante mas da autoria de outro fotógrafo, neste caso o fotojornalista Paul Schutzer da revista Life.
Além disso, na publicação em análise vê-se que os ferros que seguram o arame farpado estão virados para o lado da multidão, outro indicador de que esse é o lado Ocidental e não o “setor comunista” como referido no post.
Em suma, a fotografia é autêntica e da autoria de Konrad Giehr, mas foi captada a 27 de agosto de 1961, duas semanas depois do início da construção do Muro de Berlim, e mostra um aglomerado de pessoas do lado da República Federal da Alemanha a tentar ver o que se passa no lado Oriental.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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