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| - Duas fotografias lado a lado, que retratam ângulos diferentes da mesma mesa de jantar, provocaram milhares de partilhas nas redes sociais, acompanhadas de mensagens indignadas. O motivo? Segundo essas mesmas publicações, o que as imagens mostram é um juiz do Tribunal Supremo do Brasil, Alexandre de Moraes, que será o responsável pelo próximo processo eleitoral, a jantar com o ex-ministro Chefe da Casa Civil de Lula da Silva, José Dirceu (que foi condenado a 27 anos de prisão por associação criminosa, corrupção ativa e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato, mas ainda está em liberdade), em Lisboa.
A fotografia provocou a indignação de muitos utilizadores nas redes sociais. Entre as várias partilhas que circulam, há quem peça ao povo brasileiro para “abrir os olhos”, quem sugira que o caso seria considerado bem mais polémico se fosse um ministro de Jair Bolsonaro, quem garanta que “certamente não foi um encontro casual” e quem pergunte: “Alguém me pode dizer como ou porquê um ministro da nossa suprema corte pode reunir-se com um bandido?”.
Entre estas acusações conta-se também as que alegam que, sendo assim, “as eleições já estão garantidas”, numa referência às eleições presidenciais do Brasil, marcadas para outubro, que oporão o ex-Presidente Lula da Silva ao atual, Jair Bolsonaro, e nas quais Moraes — que foi indicado pelo então Presidente Michel Temer em 2017 — será Presidente do Tribunal Eleitoral, responsável máximo pelo processo eleitoral.
Mas há um problema com esta tese: é que a pessoa que aparece na fotografia da esquerda é, de facto, o juiz Alexandre de Moraes; mas o homem da direita não é, como estas publicações alegam, José Dirceu.
Na verdade, numa simples comparação com outras fotografias e registos, é possível verificar que se trata de pessoas diferentes. A companhia de Moraes para jantar será, como já avançaram vários órgãos brasileiros e comprovou o Observador recorrendo a diversas fotografias, Ricardo Lewandowski, outro magistrado do Tribunal Supremo do Brasil, que exerce esse cargo desde 2006, altura em que foi nomeado pelo então Presidente Lula da Silva. Lewandowski foi também presidente do tribunal entre 2014 e 2016 e presidiu aos trabalhos do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.
De resto, depois de estas alegações terem começado a circular na internet, a assessoria do Tribunal Supremo do Brasil confirmou por e-mail ao Aos Fatos que “a pessoa mencionada na foto é o ministro Ricardo Lewandowski”. Ao mesmo órgão, o advogado de Dirceu, Roberto Podval, garantiu que não só o ex-ministro não esteve em Portugal — estará no Brasil, “a recuperar da Covid-19” — como não esteve recentemente em nenhum encontro com o juiz do Supremo.
Pelo contrário, a presença de Lewandowski no jantar, se este tiver de facto acontecido em Lisboa, faria sentido, uma vez que os juízes do Supremo brasileiro estiveram em Portugal entre 27 e 29 de junho para participar num evento, o 10º Fórum Jurídico de Lisboa, organizado pelo Instituto Brasileiro de Ensino, Desenvolvimento e Pesquisa, pelo Instituto de Ciências Jurídico-Políticas da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa e pela Fundação Getulio Vargas.
O evento decorreu nas instalações da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa, sob o tema “Governance da Ordem Jurídica em Transformação”, e tanto Dirceu como Lewandowski constam da lista de oradores. No entanto, não foi possível confirmar que a fotografia corresponda a um jantar que tenha acontecido especificamente em Lisboa.
Conclusão
O homem que aparece na fotografia do lado direito não é o ex-ministro de Lula José Dirceu, mas antes o juiz do Tribunal Supremo Ricardo Lewandowski. Por isso, o também juiz do Supremo Alexandre de Moraes estaria, na verdade, a jantar com um colega, e não com o militante do PT condenado na Operação Lava Jato.
Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
NOTA: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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