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| - “De acordo com o estudo, que analisou o período entre os dias 1 de março e 22 de abril, o número de mortes registado em Portugal pode chegar a um valor que representa quase cinco vezes mais do que os atribuídos à Covid-19, que esta segunda-feira se fixavam em 928, segundo os dados oficiais”, destaca-se no texto da publicação.
“Os autores do trabalho (…) lembram que o excesso de mortalidade de março e de abril ‘não pode ser comparado com fevereiro, nem sequer com os anos homólogos, mas deve antes ter como referência os meses de férias‘, em que há uma redução de actividade e circulação de pessoas e, logo, uma queda da mortalidade por acidentes de viação”, acrescenta-se.
Verdadeiro ou falso?
O estudo – intitulado como “Estimativa do Excesso de Mortalidade Durante a Pandemia Covid-19: Dados Preliminares Portugueses” – foi publicado na “Acta Médica Portuguesa“, revista científica da Ordem dos Médicos, no dia 28 de abril de 2020.
Nesse estudo indica-se que o excesso de mortalidade observado durante o período de isolamento é superior à causada pela Covid-19 e que os modelos utilizados para prever a mortalidade estão a ser utilizados de forma errada. Ou seja, não se pode comparar a mortalidade com os meses homólogos de outros anos, uma vez que a mortalidade esperada neste período deveria ser comparada com o período de férias de Verão (altura em que as pessoas vão menos ao médico, não há tantas deslocações, etc.).
Os investigadores chegaram à conclusão de que os níveis de mortalidade entre os dias 1 de março e 22 de abril são cinco vezes superiores às mortes registadas pelo novo coronavírus: mais 2.600 a 4.000 mil mortes do que seria esperado. As explicações propostas para este excesso de mortalidade – que se verifica maioritariamente em pessoas com mais de 64 anos – apontam para as mortes causadas pela Covid-19, mortes pela Covid-19 não identificadas e a diminuição do acesso a cuidados de saúde por outros motivos de doença.
Em declarações ao jornal “Expresso“, António Vaz Carneiro, um dos autores do estudo, salientou que a explicação para a subida da taxa da mortalidade pode ter sido “uma baixa importante de acesso aos cuidados de saúde: doentes com quadros agudos e crónicos agudizados”.
“Devido à necessidade de enfrentar uma pandemia cujo impacto era inicialmente desconhecido, fizeram grandes alterações na maneira de funcionar do SNS. Foram implementadas alterações substantivas na organização das unidades de saúde e, em muitos casos, encerramento de consultas, exames de imagem, laboratórios, etc. Esta realidade fez com que uma percentagem significativa de doentes deixasse de ter acesso a cuidados de saúde. Uma outra razão será o receio de as pessoas contraírem o vírus no nosso SNS, evitando ir às urgências, por exemplo, mesmo quando estão gravemente doentes“, explicou Vaz Carneiro.
Concluindo, é verdade que o estudo em causa aponta para “mais 2.600 a 4.000 mil mortes do que seria esperado” entre os dias 1 de março e 22 de abril, em comparação com a taxa de mortalidade registada em períodos normais (isto é, antes da pandemia), mas uma parte dessas mortes estará relacionada com a “diminuição do acesso a cuidados de saúde por outros motivos de doença” e não diretamente com a Covid-19, algo que não está explícito no título (pouco esclarecedor) da publicação sob análise.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
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