schema:text
| - “Estátua do Dr. Oliveira Salazar em Santa Comba Dão“. A descrição, tão simples quanto fiel à imagem partilhada, motivou uma série de comentários saudosos do antigo líder do Estado Novo: “Os governantes que temos tido e infelizmente continuamos a ter são muitos piores que o Salazar”; “Ainda fazias cá falta para acabar com estes corruptos. Uma vergonha, há liberdade de verdade mas é liberdade a mais”; “Este senhor governou Portugal, livrou-nos da guerra mais mortífera do século XX. Não se aproveitou do dinheiro público, nem o gastou mal gasto. Fez bastantes obras públicas e restaurou as que estavam em degradação.”
A generalidade das reações ao post são positivas e há até quem considere que “esta estátua deveria estar à entrada da Assembleia da República para toda esta nova geração saber quem foi o único político português digno desse nome sério“.
Mas nem em Santa Comba Dão, nem frente à Assembleia da República: a estátua retratada na fotografia foi destruída há anos. Antes disso foi mesmo decapitada.
Em resposta ao Polígrafo, fonte oficial da Câmara Municipal de Santa Comba Dão explica que “efetivamente existiu uma estátua de Oliveira Salazar, num jardim em frente ao edifício do Tribunal de Santa Comba Dão”, conforme se pode ver na seguinte fotografia.
“Aquela estátua, pouco após o 25 de abril de 1974, foi ‘decapitada‘ e, mais tarde, destruída por rebentamento, por desconhecidos”, acrescenta a mesma fonte. Desde então, “não voltou a ser colocada qualquer estátua no local, nem existe qualquer monumento ligado à figura de Salazar no concelho de Santa Comba Dão”.
O processo foi mais moroso do que parece e António de Oliveira Salazar permaneceu sentado, sem cabeça, durante mais de três anos. Entre a decapitação, em 1975, e a bomba que estilhaçou o que restava do corpo do ditador (em bronze), já no ano de 1978, houve vários moradores a pugnar pela permanência da estátua. Alguns queriam, inclusive, que fosse construída uma nova cabeça para restaurar Salazar.
A notícia da decapitação foi publicada no jornal “Diário de Notícias“, à data, que relatou o ocorrido da seguinte forma: “Decapitada a estátua de Oliveira Salazar em Santa Comba Dão. Desconhecidos decapitaram a estátua de Salazar erigida no largo fronteiro do Palácio da Justiça de Santa Comba Dão, durante a madrugada de ontem, levando consigo a cabeça de bronze do sinistro ditador que mergulhou Portugal no obscurantismo que ainda hoje subsiste em muitas regiões.”
“Testemunhas tinham visto três indivíduos, que se deslocaram de automóvel, perto da estátua, cerca das 4h, mas o acto não foi, aparentemente. presenciado por ninguém. O corte, que se julga, foi efectuado com uma serra eléctrica, dada a sua perfeição. A ‘decapitação’ foi feita imediatamente acima do colarinho da camisa“, pormenoriza a peça jornalística.
Quanto à estátua, diz a mesma edição do jornal que esta foi “colocada no local em 1965, aquando da inauguração do Palácio da Justiça, por iniciativa do então ministro Antunes Varela, e não é a primeira vez, depois do 25 de Abril, que é alvo de acções diversas. Para além de epítetos pintados no pedestal, já foi coberta de tinta vermelha, numa ocasião, e de tinta amarela, noutra, além de ter também aparecido uma vez envolvida num pano negro“.
__________________________
Avaliação do Polígrafo:
|