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| - “No dia em que se anuncia que o “Santander Portugal quase duplica lucros para 568,5 milhões em 2022, leio que o Presidente do Santander afirma que os Portugueses “continuam com padrão de consumo elevado, a jantar fora à 6ª feira”. Portanto, somos todos uns burgueses!”
Este é um exemplo entre centenas de tweets partilhados ao longo dos últimos dias, na sequência de declarações de Pedro Castro e Almeida, presidente do Santander Totta, na apresentação à comunicação social das contas de 2022 daquele banco, realizada em Lisboa no dia 2 de fevereiro. O tom mais indignado relativamente à intervenção do banqueiro generalizou-se – sobretudo no Twitter, mas também no Facebook – e nem as figuras públicas ficaram fora do debate. O professor e escritor Rui Zink, por exemplo, recorreu à ironia para criticar Pedro Castro Almeida:
[twitter url=”https://twitter.com/Rui_Zink/status/1621588289642700800″/]
Também no espectro político houve reações. O portal esquerda.net (ligado ao Bloco de Esquerda) publicou uma notícia com o título “Presidente do Santander critica `padrão de consumo elevado` dos portugueses”, seguido da entrada em que era referido que “Pedro Castro e Almeida (…) diz que portugueses `continuam com padrão de consumo elevado e a jantar fora à 6ª feira` e lamenta que se demonize quem tem lucros.”.
Por seu lado, o líder do PCP, Paulo Raimundo, numa indireta às alegadas declarações do presidente do Santander Totta afirmou na sexta-feira à noite: “Pois aqui estamos nós numa sexta-feira a jantar (…) A banca privada portuguesa lucrou qualquer coisa como 4,4 milhões de euros por dia (…) À custa de quem é que isto foi? À custa dos que têm jantar à sexta-feira, dos que mal podem jantar à segunda e dos que trabalham à sexta, à quinta e a todos os dias.”
Mas o que disse, de facto, a primeira figura na hierarquia do Santander Totta?
Esta é a transcrição literal das declarações em causa:
“E vocês veem (não é uma questão de estrangeiros) podem circular por Lisboa para jantar fora a uma sexta, ou sábado de manhã, podem circular pela rua, e continuamos a ver as pessoas com um nível de um padrão de consumo, classe média e média-alta, relativamente elevado face ao histórico e à situação em que está a economia. Isto tem a ver com os níveis de poupança também que foram acumulados durante a pandemia.”
Da análise do discurso resulta que Pedro Castro e Almeida não se referia à globalidade dos portugueses, mas sim às classes média e média-alta. As afirmações são uma pequena passagem de uma intervenção mais alargada, em que o presidente do Santander Totta disse, entre outras coisas, que o Santander não regista muitas restruturações dos créditos, nomeadamente por causa do “baixo desemprego” e porque “quem está a sofrer mais com o agravamento do custo de vida são as classes mais baixas e essas não têm tanto crédito à habitação”.
Em suma, é falso que o presidente do Santander Totta tenha afirmado que os portugueses – todos os portugueses – jantem fora à sexta-feira à noite e que tenha feito essa constatação em forma de crítica. Na realidade, o líder do Santander (que duplicou os lucros face a 2021 para 606,7 milhões de euros) falava das classes média e média alta, tendo dado esse exemplo para sublinhar que os hábitos de consumo entre aquela franja da população não se alteraram.
Avaliação do Polígrafo:
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