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| - Continua a saga das “notícias” que ligam conhecidas personalidades dos negócios e das artes portuguesas a investimentos milionários em bitcoins. A mais recente “vítima” é Pedro Soares dos Santos, presidente do conselho de administração da Jerónimo Martins, a multinacional portuguesa que detém a cadeia de supermercados Pingo Doce, entre muitos outros negócios.
Segundo uma suposta reportagem que circula nas redes sociais, o sucessor de Alexandre Soares dos Santos – recentemente falecido – terá ido à RTP para, numa entrevista ao jornalista Vítor Gonçalves, explicar o seu “mais recente investimento”, deixando “os especialistas estupefactos e os grandes bancos aterrorizados”.
A peça, datada de 21 de setembro, garante que a solução de Soares dos Santos é susceptível de “transformar qualquer pessoa num milionário num período de 3-4 meses.” Ele próprio o terá explicado em direto: “O que me fez ter sucesso foi aproveitar as novas oportunidades rapidamente sem qualquer hesitação. E, neste preciso momento, o meu gerador de dinheiro número um é um novo programa de negociação automática de criptomoedas chamado Immediate Edge. É a maior e única oportunidade que já vi em toda a minha vida para criar uma pequena fortuna rapidamente. Peço a todos que vejam isto antes que os bancos acabem com ele.”
E o que é o Immediate Edge?
Trata-se de uma plataforma de negociação que, terá garantido Soares dos Santos, permite que a pessoa comum lucre com a expansão das criptomoedas. “Embora o preço da Bitcoin tenha caído do seu máximo histórico de 17.600 € por Bitcoin, os negociadores ainda estão a ganhar uma fortuna. Porquê? Porque, além da Bitcoin, há milhares de outras criptomoedas que são negociadas para lucros enormes numa base diária”, garante o artigo, que cita os nomes de Richard Branson, Elon Musk e Bill Gates como exemplos de “apoiantes” do Immediate Edge.
“A verdade é que a criptomoeda é a revolução da nossa vida e qualquer pessoa que não aproveitar esta oportunidade estará a desperdiçá-la. Já recebi chamadas revoltadas e ameaças de grandes sociedades financeiras porque chamo a atenção das pessoas para esta tecnologia. Mas que se lixem. As pessoas em Portugal já começam a saber a verdade e é só uma questão de tempo até o número aumentar”, teria acrescentado o empresário.
Os elogios ao esquema prolongam-se por vários parágrafos, sempre no mesmo tom: a promessa de um admirável mundo novo, pleno de riqueza e realização, apenas à distância de um investimento mínimo de 250 euros.
Mas será tudo isto verdadeiro ou trata-se de mais um de tantos esquemas fraudulentos existentes online para apelar ao investimento em bitcoins? A dúvida foi levantada por vários utilizadores do Facebook, que denunciaram o conteúdo como suspeito.
Não é a primeira vez que o Polígrafo faz a verificação de um esquema semelhante a este – fê-lo a propósito de José Neves, de José Mourinho ou de Marcelo Rebelo de Sousa, por exemplo. Basicamente, o mecanismo de atuação do Immediate Edge não diverge grandemente dos restantes: através de um caso paradigmático de alegado sucesso tenta levar potenciais investidores ao engano. Para tal socorre-se de uma figura de referência – neste caso o empresário Pedro Soares dos Santos – e de um interlocutor familiar – neste caso o jornalista televisivo Vítor Gonçalves, que empresta a sua credibilidade à história. O Polígrafo confirmou no arquivo da RTP que Pedro Soares dos Santos nunca foi entrevistado no programa em causa (pode ver todos os episódios aqui) – ou seja, a situação descrita nunca aconteceu. Além disso, o Polígrafo não encontrou qualquer registo – quer em entrevistas públicas dadas por Pedro Soares dos Santos, quer em qualquer das páginas na internet dos vários negócios do grupo Jerónimo Martins – da existência de interesses na área das bitcoins.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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