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| - “Ontem foi um dia triste para o Vale da Amoreira. Sem qualquer tipo de aviso prévio, a Câmara Municipal de Cascais deixou a Horta Comunitária Desassociada no estado que aqui podem ver. As cabanas foram totalmente destruídas, bem como quase tudo o que havia dentro delas. Os depósitos de água, jerricans, regadores, sementes, etc., comprados pela associação A. Desassociada, encontram-se agora danificados no monte de entulho que se vê nas fotografias”, descreve-se na mensagem da publicação no Facebook, datada de 14 de novembro, com centenas de partilhas e comentários.
“Mas não fomos as únicas vítimas. Muitas outras hortas do Vale da Amoreira sofreram exatamente o mesmo destino. Incluindo hortas que cá estão desde os anos 80 e que, desde essa época, são cuidadas por reformados que fazem delas os seus dias. Ninguém recebeu um aviso. Ninguém teve direito a preparar-se. É assim que, em Cascais, se trata o comunitarismo e a cidadania ativa. Quase três anos de trabalho investidos neste espaço morrem assim, de um dia para o outro, sem direito a um e-mail, sem direito a nada”, acrescenta-se.
É verdade que a Câmara Municipal de Cascais “destruiu” horta comunitária e estruturas envolventes “sem aviso prévio”?
Questionada pelo Polígrafo, fonte oficial da Câmara Municipal de Cascais (CMC) alega que “procedeu à limpeza do leito da ribeira e dos resíduos que se encontravam em terreno municipal” e que teve “o cuidado de preservar as culturas que estavam identificadas e vedadas”.
De acordo com a CMC, a limpeza avançou na sequência de “inúmeros pedidos de atuação” e “no total foram retiradas 16 toneladas de resíduos“. Mais, a autarquia garante que contactou os horticultores no local, embora reconheça que muitos deles possam não ter sido notificados, pois “não estão em permanência na horta” e a maioria “são hortelões informais de quem não temos contactos“.
O objetivo da limpeza consistiu na recolha de “todos os resíduos existentes nas áreas adjacentes à ribeira”, de forma a evitar o “possível entupimento do canal de encanamento da ribeira“, o que levaria a “uma situação bastante difícil de resolver” porque “o canal não possibilita a utilização de equipamentos mecânicos e manualmente não é possível”.
De resto, a autarquia destaca que nos últimos anos “tem investido na criação de hortas comunitárias” e que “o sucesso é tal que temos uma longa lista de espera. Logo, não faz sentido destruirmos hortas de munícipes“.
O Polígrafo contactou a associação A. Desassociada, cujos responsáveis explicaram que a sua queixa “não se prende com uma eventual destruição de hortícolas, mas sim do material pertencente aos horticultores das hortas intervencionadas sem qualquer tipo de aviso prévio”.
Confrontada com esta alegação, a CMC garante que não foram retirados “utensílios, equipamentos ou produtos agrícolas”, mas sim “lixo“.
Aliás, no dia 17 de novembro, o presidente da CMC, Carlos Carreiras publicou uma mensagem no Facebook com a sua versão dos acontecimentos (difundida também através de uma publicação na página da CMC), salientando que “a mentira não vence e perde uma vez mais”.
Perante estas publicações de Carreiras e da CMC, os responsáveis associação A. Desassociada afirmam ao Polígrafo que “a justificação que a CMC deu não é verdadeira. A CMC tem, sim, o nosso contacto e não nos avisou. E mesmo que a CMC não tivesse o contacto das pessoas que tinham hortas no vale, isso nunca poderia ser justificação para não as avisar. Teriam que ter realizado uma acção prévia de reconhecimento do terreno em que identificavam as pessoas que lá estavam para as poderem avisar de que a intervenção em questão iria ser levada a cabo”.
De resto, garantem que “nas 16 toneladas de lixo estão incluídos depósitos de água, materiais agrícolas e as cabanas onde estes eram guardados”. E sublinham que “o senhor presidente insiste que a associação é partidária, quando consta nos estatutos o contrário”.
Tendo em conta que a CMC atuou “na sequência de pedidos da Polícia Municipal e de diversos moradores” e visando evitar um possível “entupimento do canal de encanamento da ribeira”, classificamos a publicação sob análise como descontextualizada.
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Nota editorial 1: este artigo foi atualizado no dia 22 de novembro com uma resposta adicional por parte dos responsáveis da associação em causa.
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Nota editorial 2: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falta de contexto: conteúdos que podem ser enganadores sem contexto adicional.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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