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| - É a assinatura do poster, logo abaixo do desenho estilizado de uma idosa com uma seringa a apontar para o pescoço e uma máscara à frente da cara, que tem causado mais estupefação: World Health Organization, Organização Mundial de Saúde.
Desde dezembro, várias fotografias do mupi, colocado numa paragem de autocarro numa cidade que não é identificada, já foram partilhadas inúmeras vezes nas redes sociais, com comentários que oscilam entre a incredulidade e o ultraje.
“Há muito que têm a lata de dizer ao que andam e mesmo assim, da parte da carneirada, népia”, disse um utilizador do Facebook em resposta a uma das publicações da imagem feitas em português, indignado pela alegada assunção, por parte da OMS, de que as máscaras e os reforços vacinais não irão nunca terminar. Outro responde ironicamente com uma referência a uma hipotética “oitava dose” da vacina contra a Covid-19.
Contactada pelo Observador, fonte da OMS não reconheceu o cartaz, que não foi feito nem partilhado pela organização. O design também não surge no site da OMS nem foi partilhado nas suas páginas oficiais nas redes sociais.
Uma pesquisa mais aprofundada permite encontrar a partilha original, feita a 7 de dezembro do ano passado, via Instagram, por Winston Tseng, um designer gráfico e street artist baseado em Nova Iorque.
De acordo com o artista, que chamou ao trabalho “Endémico”, o cartaz foi exposto em vários locais da cidade, onde não terá resistido durante muito tempo. “Normalmente, o meu trabalho é removido relativamente depressa, após alguns dias ou algumas semanas, no máximo”, explicou Winston Tseng ao Observador.
Ainda assim, o poster manteve-se sempre na sua conta de Instagram, onde tem mais de 6,6 mil seguidores, e está também em exposição no seu website. “A intenção do meu trabalho é sempre refletir a nossa sociedade e os tempos que vivemos”, contextualizou o artista, que não fazia sequer ideia de que a obra se tinha tornado viral e partilhada como comunicação oficial da OMS.
“Este trabalho foi criado em dezembro de 2021 quando a variante Ómicron estava a tornar-se dominante. Com a frase ‘We’re In This Forever’, estava a tentar fazer um pouco de humor negro, já que a sociedade estava novamente a lidar com a dolorosa realidade do crescimento da Covid. Sei que algumas pessoas viram a obra como pró-vacina e pró-máscara, enquanto outras pessoas a viram como anti-vacina e anti-máscara, o que também era a minha intenção”, acrescentou Winston Tseng, que diz que gosta de tratar de “temas polarizantes” e de deixar espaço à interpretação pessoal de quem é exposto a elas. “Muitas vezes, tento criar obras que possam ser interpretadas de múltiplas formas, um pouco como um teste de Rorschach [o conhecido teste psicológico com recurso a um borrão de tinta], para ver como pessoas diferentes o interpretam de forma diferente, com os seus próprios preconceitos e opiniões.”
A propósito da guerra na Ucrânia, no início desta semana Winston Tseng cobriu vários espaços de Nova Iorque com um cartaz em que, uma vez mais, faz uso de uma marca instituída, o YouTube. Na imagem pode ver-se uma mulher, boca aberta de espanto, em frente a um computador de onde sai uma luz vermelha brilhante: “O mundo todo está a ver.”
A apropriação de marcas e instituições é outra das marcas do trabalho do artista. Ainda durante a pandemia, Winston Tseng criou um par de cartazes “alternativos” creditados ao americano CDC, Centro para o Controlo e Prevenção de Doenças.
A única diferença entre os dois posters criados sob a égide do CDC, que foram igualmente expostos em locais públicos de Nova Iorque, e o cartaz alusivo à OMS é o nível de subtileza, que no primeiro caso denuncia automaticamente o cariz artístico da obra.
Em vez de um “Estamos nisto para sempre”, nos posters do CDC, ambos com o desenho de um rapaz de boné com a bandeira das stars and stripes, aterrorizado primeiro com a visão de uma seringa e depois de uma máscara, podem ler-se um “Tome o c… da vacina” e um “Use o c… da máscara”. Por muito que também se tenham tornado virais, ninguém terá assumido por um segundo sequer que fossem reais.
Conclusão
Não é verdade que o poster em questão tenha sido criado pela Organização Mundial de Saúde ou partilhado por esta instituição. Trata-se de um trabalho de um artista nova-iorquino, Winston Tseng, que foi exposto nas ruas da cidade no início de dezembro, na altura em que o número de casos de infeção pela variante Ómicron começaram a escalar em todo o mundo. “Com a frase ‘We’re In This Forever’ estava a tentar fazer um pouco de humor negro”, explicou o artista ao Observador.
Assim, segundo a classificação do Observador, este conteúdo é:
ERRADO
No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é:
FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos.
Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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