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| - “O ridículo da impunidade em Portugal, a forma como são tratados os corruptos, afronta a inteligência e a justiça”, diz o autor da mensagem em análise. O texto é ilustrado com uma imagem onde surge o fiscalista Tiago Caiado Guerreiro e a seguinte frase: “OCDE: Portugal é um país pobre porque foi devastado pela corrupção”.
Mas será verdade que a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) estabeleceu uma relação entre os níveis de corrupção em Portugal e pobreza do país?
Tiago Caiado Guerreiro é comentador habitual na SIC onde aborda recorrentemente os problemas de corrupção que abalam Portugal, motivo pelo qual a sua imagem terá sido acoplada a estas alegações.
Uma pesquisa pela montagem utilizando a ferramenta RevEye permite chegar a um texto publicado na Internet em 7 de novembro de 2018 no qual se diz que o país é pobre devido à corrupção. A crítica é acompanhada de um vídeo de Tiago Caiado Guerreiro na “SIC Notícias” publicado no Youtube em agosto de 2013.
“Há um estudo sobre o impacto da corrupção no desenvolvimento dos países que diz que se Portugal não tivesse o nível de corrupção que tem teria o nível de desenvolvimento da Dinamarca. Isto são estudos feitos pela OCDE, não são estudos obscuros, nem feitos pelo PSD, nem por partido nenhum”, diz o fiscalista durante a sua intervenção. No entanto, não é feita uma relação entre a corrupção e a pobreza – o que é referido é o nível de desenvolvimento. De referir que a montagem que une Caiado Guerreiro e a suposta frase da OCDE voltou a circular de maneira massiva nas redes sociais pelo menos desde março deste ano.
Em 2019, um relatório deste organização económica intergovernamental sobre a competitividade das exportações e a relação entre o sistema de Justiça e a atividade económica, com a corrupção como tópico, esteve na origem de uma polémica entre o Governo e o diretor de Estudos Nacionais da organização, Álvaro Santos Pereira, antigo ministro de Passos Coelho. Segundo a informação avançada então pelo “Expresso”, a abordagem à corrupção em Portugal – com referências, por exemplo, à Operação Marquês que envolve o antigo primeiro-ministro José Sócrates – não foi do agrado do Executivo liderado por António Costa. “Colocar acima de alguns fatores estruturais a corrupção, acho que não é muito profícuo e dá um sinal externo muito negativo”, criticou o ministro da Economia, Pedro Siza Vieira, em audição parlamentar a 16 de janeiro desse ano.
Em fevereiro de 2019, o OCDE publicou a versão final do “Economic Survey” omitindo as referências à investigação que envolve o ex-governante. O relatório indica que subsistem em Portugal “legados da crise, com uma taxa ainda elevada de pobreza entre a população ativa e percepções de subjetividade de bem-estar abaixo dos níveis de pré-crise”.
Relativamente à corrupção em Portugal, a OCDE diz no documento que “as autoridades têm feito esforços significativos para investigar e combater o crime económico e financeiro, incluindo a corrupção. No entanto, há espaço para melhorar as medidas institucionais nesta área”. Desse modo, a organização aconselha a que se “continue a aumentar a capacidade do Ministério Público” para lidar com estes crimes e que os procuradores realizem formação especializada. É também sugerido que seja criado “um sistema eletrónico do registo de interesses de todos os membros do Governo e de funcionários públicos com cargos elevados que possa ser regularmente atualizado”.
No documento não se diz que Portugal está devastado pela corrupção, nem se estabelece uma ligação entre estes crimes e os problemas económicos do país.
Em suma, a imagem que circula pelas redes sociais em centenas de publicações manipulou declarações do fiscalista Tiago Caiado Guerreiro. Numa intervenção na “SIC Notícias”, o especialista disse a corrupção atrasou o desenvolvimento de Portugal, mas não disse que o país era pobre por ter sido devastado por esses crimes. Em 2019, a OCDE abordou a problemática da corrupção no país no relatório Economic Survey, sendo que também não é estabelecida qualquer ligação entre os dois fenómenos.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Falso: as principais alegações dos conteúdos são factualmente imprecisas; geralmente, esta opção corresponde às classificações “Falso” ou “Maioritariamente Falso” nos sites de verificadores de factos.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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