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| - No dia 9 de março, Marcelo Rebelo de Sousa tomou posse do segundo mandato como Presidente da República, depois de ter vencido as eleições presidenciais de 24 de janeiro com 60,70% dos votos expressos. No último dia do primeiro mandato, a 8 de março, participou numa reportagem da SIC com enfoque na sua rotina diária no Palácio de Belém, em Lisboa.
À hora de almoço, sentado num banco do jardim, o Chefe de Estado abriu uma embalagem de Fortimel e bebeu, dizendo que esse suplemento nutricional “substitui uma refeição“.
“Isso é o seu almoço?”, perguntou o entrevistador, sentado no mesmo banco. “Exatamente, isto é o meu almoço e este é o sítio onde eu almoço. No início do mandato, eu comia aqui uma sandes de queijo e um sumo de ananás. E durante anos foi isso e depois jantava bem. Depois evoluí, tomo Fortimel e o Fortimel substitui uma refeição”, respondeu o Presidente da República.
Não foi a primeira vez que consumiu em público esse suplemento nutricional. Em janeiro, durante a campanha para as eleições presidenciais, já o tinha feito à porta da Nova SBE, em Carcavelos. “É um produto que se compra nas farmácias. Usei isto quando fui operado à hérnia, alimentava-me com isto“, declarou aos jornalistas presentes no local.
Questionado sobre se tinha sido um médico a recomendar o suplemento, Rebelo de Sousa respondeu da seguinte forma: “Sim, naquela altura, mas agora eu uso porque o que é que eu posso fazer? Não tenho tempo para almoçar“.
O referido suplemento nutricional deve ser utilizado para substituir refeições?
Contactado pelo Polígrafo, Paulo Maçãs Santos, diretor de cuidados de saúde da Danone Nutricia, empresa que desenvolve e produz o Fortimel, indica que o produto “é um suplemento nutricional oral hiperproteico e hipercalórico, indicado para indivíduos que sofrem de malnutrição, risco de malnutrição ou para satisfazer as necessidades nutricionais de quem não as consegue alcançar através da alimentação habitual“.
“O Fortimel, que pode ser adquirido sem prescrição médica, deverá ser utilizado segundo as recomendações dos profissionais de saúde, uma vez que é utilizado para quadros associados à perda de peso e/ou apetite, pós-operatório ou doentes com necessidades nutricionais aumentadas devido a complicações, como é o caso de doentes internados ou em recuperação após SARS-CoV-2 ou outras doenças, como as oncológicas”, afirma Maçãs Santos.
Por sua vez, Graça Ferro, nutricionista e diretora do Serviço de Nutrição e Alimentação da Unidade Local de Saúde do Alto Minho, explica que este tipo de suplementos nutricionais, “tal como o próprio nome indica, são um complemento às refeições. Ou seja, devem ser utilizados quando os indivíduos não conseguem, com a alimentação tradicional, atingir as suas necessidades, quer calóricas, quer em proteína, hidratos de carbono, gordura ou vitaminas e minerais”.
De acordo com a nutricionista, “os suplementos nutricionais orais justificam-se quando a alimentação por si só não é suficiente, quando o doente não a quer ingerir ou, por outro lado, quando o doente tem necessidades aumentadas. São soluções de muito menor volume em que conseguimos dar esse extra que é necessário”.
Ferro alerta para a importância de “não passar a ideia de que estes suplementos devem ser utilizados como meio de facilitismo ou de deixar de fazer refeições, embora em alguns quadros específicos sejam indicados”.
“Não é que a toma esporádica destes suplementos vá prejudicar a saúde de quem o faz, mas não foi para esta utilização que os suplementos nutricionais orais foram desenvolvidos“, sublinha. “Os alimentos reais têm bons nutrientes e a sua biodisponibilidade, até pelas combinações entre si, permitem uma absorção, uma digestão e uma utilização de nutrientes de uma forma muito mais fisiológica para o nosso organismo”.
Mais, a nutricionista realça que estes suplementos não são regulados pelo Infarmed, sendo que a grande maioria não é comparticipada pelo Serviço Nacional de Saúde (SNS), o que é “um grande entrave para a maioria dos doentes que necessitam de os consumir e não têm os meios financeiros para os adquirir”.
Também em declarações ao Polígrafo, Rosário Monteiro, assistente de Medicina Geral e Familiar na ARS Norte e professora na Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, considera que estes suplementos “devem ser entendidos como dispositivos médicos, ou seja, devem ser utilizados sob supervisão médica“.
“Em algumas situações pontuais, mas repito, sob aconselhamento de profissionais de saúde, eles poderão ser integrados num dia alimentar do indivíduo. Mas não havendo outro tipo de patologia, não substituem uma alimentação variada e equilibrada“, afirma.
“Estes suplementos são muito úteis, há uma investigação sólida que apoia a sua utilização e existem cada vez mais trabalhos que identificam a sua utilidade em situações clínicas específicas. Num indivíduo saudável, ele pode ter esta indicação como um enriquecimento nutricional, mas nunca como substituição de uma alimentação regular a longo prazo”, conclui.
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Avaliação do Polígrafo:
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