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  • Têm sido inúmeras as partilhas de alegadas previsões da pandemia do novo coronavírus. Uma das mais recentes, que vamos tratar neste fact-check, é capaz de bater recordes de longevidade, tendo em conta que é apontada a 1942, há 78 anos. Foi nesse ano que, dizem as publicações, C. S. Lewis teria previsto os efeitos da pandemia da Covid-19. Falamos do aclamado escritor e professor britânico, nascido em 1898, amante do mitológico e da fantasia. Um género que acabou mesmo por imortalizá-lo, com a série de contos “As Crónicas de Nárnia”, que teve adaptação ao cinema em meados da década de 2000. Agora, 57 anos depois do seu falecimento — em 1963 —, o nome de C. S. Lewis volta a aparecer, mas por causa de outro livro: The Screwtape Letters, traduzido para português de Portugal com “Vorazmente Teu” (ou “Cartas de Um Diabo a seu Aprendiz”, em português do Brasil). Em causa, estará um excerto do livro, no qual o escritor britânico teria descrito na perfeição o comportamento da sociedade durante a pandemia da Covid-19. Mas será verdade? A previsão de C. S. Lewis: verdadeira ou falsa? Como se pode ver na publicação, o texto descreve uma conversa, supostamente presente na obra, em que um Diabo mais velho explica a um mais jovem — o seu aprendiz —, como conseguiu usar uma pandemia para “enviar tantas almas para o Inferno”. Nessa explicação, o Diabo mais velho descreve a forma como a sociedade se comportou no combate a uma “doença”. É mencionada a falta de contacto humano, a ausência de abraços e cumprimentos, bem como as dificuldades financeiras de pessoas que “perderam o emprego, mas optaram por temer pela vida”, deixando ainda críticas à imprensa. No final, remata-se com a frase: “Eles não viviam, […] foi fácil tirar as suas almas miseráveis.” O texto é depois atribuído a C. S. Lewis no tal livro “Vorazmente Teu”. O problema é que o texto e a sua atribuição são falsos. Perante a raridade e dificuldade de encontrar a obra em português de Portugal — editada pela última vez em 1995 pela Grifo —, o Observador teve acesso à versão em português do Brasil de The Screwtape Letters, chamada de “Cartas de Um Diabo a seu Aprendiz”. Nela, não existe qualquer referência, menção ou semelhança com o texto ou conteúdo como foi partilhado na publicação acima. Cruzando mesmo com a obra original, em inglês, o resultado é o mesmo: o excerto partilhado não pertence a esta obra. O USA Today foi mesmo mais longe e garante que a passagem não está presente em nenhuma obra de Lewis. Para além disso, a própria estrutura do excerto não corresponde à estrutura de “Vorazmente Teu”. Na obra de C. S. Lewis não há diálogos, apenas a transcrição de cartas completas, escritas e enviadas por um demónio sénior, Escritorpe, ao sobrinho e aprendiz de Diabo, chamado Absintox. Qual a origem, então, do excerto partilhado? A chave está mesmo no Brasil. De acordo com o site de fact-check da Folha de São Paulo, o texto partilhado é, na verdade, uma reflexão da escritora brasileira Camila Abadie, numa publicação no Facebook. Neste texto, Camila admite que se baseou na obra de C. S. Lewis para a reflexão, tendo posto mesmo como título “Trecho não escrito de ‘Cartas do inferno’ (ou ‘Cartas de um diabo ao seu aprendiz’)”. A partilha gerou tanta confusão que a própria Camila acabou por ter de deixar um esclarecimento no final da publicação a sublinhar que o texto era da sua autoria e não de Lewis. Deste modo, fica também compreendido o porquê de as partilhas do excerto — como a publicação mostrada no início — não estarem em português de Portugal e citarem o título da versão do Brasil, The Screwtape Letters. Conclusão É falso que C. S. Lewis tenha previsto a pandemia do novo coronavírus e que tenha descrito os efeitos do vírus sociedade no livro The Screwtape Letters (“Vorazmente Teu”), de 1942. Como confirmado pelo Observador, o excerto partilhado não está presente na obra, e é sim da autoria de uma escritora brasileira, Camila Abadie, numa reflexão feita nas redes sociais. A própria autora já esclareceu o mal-entendido. Segundo a classificação do Observador, este conteúdo é: ERRADO No sistema de classificação do Facebook, este conteúdo é: FALSO: As principais alegações do conteúdo são factualmente imprecisas. Geralmente, esta opção corresponde às classificações “falso” ou “maioritariamente falso” nos sites de verificadores de factos. Nota: este conteúdo foi selecionado pelo Observador no âmbito de uma parceria de fact checking com o Facebook.
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