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| - O partido Chega lançou uma aplicação para smartphones, disponível apenas para os sistemas operativos Android neste momento, cuja segurança tem sido questionada através de uma longa lista de avisos: “vai controlar sempre onde você está”; “a app vai ter acesso às fotos que tem no seu telemóvel, podendo apagá-las ou modificá-las”; “vai ter acesso a todos os conteúdos que estejam armazenados no seu telemóvel” e “vai gravar audio, ou seja, vai ouvir as suas conversas, mesmo que não esteja a usar a app”.
A denúncia é feita numa página de Facebook na qual foi publicado um vídeo que procura suportar todas as alegações feitas. Através de um conjunto de capturas de ecrã do site da Google Play Store, local a partir do qual se descarrega a app, é detalhado aquilo a que a aplicação alegadamente tem acesso no smartphone em que esteja instalada.
É verdade que o aplicativo lançado Chega viola a privacidade dos utilizadores, gravando conversas, controlando a localização e acedendo a todo o conteúdo do telemóvel?
Na Google Play Store, como o Polígrafo comprovou, a aplicação é apresentada assim: “Notícias Chega e Chega TV sempre na palma da tua mão”. A descrição pode indicar aos potenciais utilizadores que se trata de uma app de notícias, onde é possível ficar a par das novidades do partido. Porém, tal como alega a publicação no Facebook, a “loja” da Google alerta que a aplicação depois de instalada tem acesso à localização precisa e a todo o conteúdo armazenado no aparelho, podendo apagá-lo ou modificá-lo. Além disso, avisa-se, alcança igualmente o microfone, que pode ser usado para gravar áudio.
Ao Polífrafo, Nelson Escravana, diretor de comunicações e cibersegurança do Instituto de Engenharia de Sistemas de Computadores Inovação, confirma a suspeita criada pelo elevado número de permissões exigido pela app: “Uma aplicação de notícias não precisa de localização, não necessita de acesso ao microfone e também muito raramente pode necessitar de acesso às fotografias ou aos ficheiros.”
Perante estes dados, o especialista em cibersegurança deixa um alerta aos potenciais utilizadores da app, assumindo a sua posição perante as exigências. “Não estamos a falar de uma aplicação, por exemplo de navegação, em que já se espera que use a localização. Não estamos a falar de uma aplicação tipo chat que se sabe usa o microfone. Por isso, eu não permitiria que uma aplicação destas fosse instalada, porque comporta risco”, adverte.
Já Pedro Veiga, antigo coordenador do Centro Nacional de Cibersegurança, tem uma visão menos preocupada em relação à segurança da app, como revela ao Polígrafo. “No descritivo da aplicação, diz que ela tem acesso ao microfone, por exemplo, mas esse acesso só é conseguido depois de uma autorização explícita do utilizador durante a primeira navegação, pelo menos nas versões mais recentes do Android”, explica.
O professor universitário revela que instalou a aplicação num computador que tem para este tipo de experiências, com o objetivo de testar as permissões exigidas pela mesma. “No percurso que fiz ao longo da aplicação, não me parece que exista qualquer violação de dados pessoais”, garante. Segundo a sua explicação, na tal primeira utilização, não é pedida permissão de acesso nem ao microfone, nem aos ficheiros armazenados no smartphone.
Ainda assim, Pedro Veiga alerta que “pode haver problemas em versões mais antigas do sistema Android, que são menos seguras”. E deixa um outro aviso sobre procedimentos que podem aumentar os riscos associados à app: “se as pessoas abriram todas as proteções, a aplicação pode ser perigosa. Por isso, os utilizadores devem ter muito cuidado com aquilo que instalam nos seus equipamentos, só devem instalar o que é mesmo necessário.”
Nelson Escravana, com mais de 20 anos de experiência em segurança da informação, revela que apesar de todas as considerações, “só com uma análise detalhada da aplicação, em laboratório, será possível descobrir se a aplicação faz algo que não deveria fazer”. Ou seja, seria preciso “uma análise forense, que envolve tempo e recursos consideráveis”.
Em conclusão, não é certo que a aplicação do partido Chega controle a localização de quem a use, aceda ou apague fotografias e ficheiros do telemóvel, ou grave conversas a partir do microfone do equipamento onde está instalada. Ainda assim, tendo em conta que se apresenta como um portal de notícias, a aplicação exige permissões em excesso. Desta forma, os especialistas recomendam cautela e lembram que só se devem instalar aplicações estritamente necessárias e que sejam usadas com frequência.
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Nota editorial: este conteúdo foi selecionado pelo Polígrafo no âmbito de uma parceria de fact-checking (verificação de factos) com o Facebook, destinada a avaliar a veracidade das informações que circulam nessa rede social.
Na escala de avaliação do Facebook, este conteúdo é:
Parcialmente falso: as alegações dos conteúdos são uma mistura de factos precisos e imprecisos ou a principal alegação é enganadora ou está incompleta.
Na escala de avaliação do Polígrafo, este conteúdo é:
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