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  • Nas últimas semanas tem sido partilhado nas redes sociais um questionário online que se propõe a definir a “posição política” de cada participante de acordo com as respetivas respostas. Denominado como “Bússola Política“, tem sido alvo de críticas por causa de um suposto enviesamento ou até manipulação favorecendo o partido Iniciativa Liberal. Vários leitores do Polígrafo solicitaram uma verificação da consistência científica deste teste que, de acordo com os seus promotores, “foi feito com o objetivo de fazer com que os portugueses fiquem a conhecer melhor as principais opções partidárias disponíveis nas eleições legislativas de 2019″. As denúncias em causa apontam, em primeiro lugar, para os autores do inquérito, o Instituto Mises Portugal, uma organização que assume a missão de “promover o Livre Comércio, assim como a divulgação, a investigação, e o ensino da Ciência Económica, sob a perspectiva da Escola Austríaca da Economia – na tradição de Ludwig von Mises – assim como das restantes Ciências Sociais, com ênfase especial no universo lusófono”. Ou seja, ligado ao pensamento liberal que, precisamente, é defendido pelo partido Iniciativa Liberal. Mais: o partido Iniciativa Liberal tem divulgado insistentemente o inquérito em causa nas suas redes sociais, o que também é apontado como suspeito pelos que colocam em causa a credibilidade do teste. Essa correlação ideológica entre os autores do inquérito e o partido Iniciativa Liberal existe, sem dúvida, mas isso não comprova – por si só – o alegado enviesamento do inquérito. O mesmo se aplica à divulgação do inquérito nas páginas do partido Iniciativa Liberal. Ora, para conferir se há ou não um enviesamento, o Polígrafo questionou três politólogos sobre esta matéria, pedindo-lhes que analisassem as perguntas e a metodologia utilizada no inquérito. Luís de Sousa, investigador auxiliar do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa, considera que “a ferramenta não está bem concebida” e “não tem rigor académico“, acrescentando: “Algumas escalas de resposta ‘empurram’ o inquirido sensato para o statu quo, outras estão confusas e misturam mais do que um tema na mesma pergunta”. Por outro lado, sublinha que o inquérito não indica “qualquer explicação sobre a metodologia utilizada e como foi feita a codificação dos manifestos dos partidos”. E conclui: “Acho que deve ser entendido mais como uma coisa lúdica, mas admito que possa haver outras intenções por detrás da sua elaboração”. . “Não me parece que a ferramenta esteja bem concebida, ou pelo menos não me parece que tenha rigor académico. Algumas escalas de resposta ‘empurram’ o inquirido sensato para o ‘statu quo’, outras estão confusas e misturam mais do que um tema na mesma pergunta”, critica Luís de Sousa. . Para Bruno Ferreira Costa, politólogo, professor auxiliar da Universidade da Beira Interior e dirigente do partido Aliança (o partido supostamente mais “penalizado” pelos resultados do teste, de acordo com as denúncias que recebemos), “estes inquéritos partem de análise e interpretação dúbias, quando deveriam ser realizados com inquéritos aos partidos. A referida bússola coloca o Aliança fora de um quadrante onde se coloca de forma clara: o liberalismo económico, a importância da economia de mercado e a valorização do contributo do setor privado”. “Esta situação promove um enviesamento que prejudica o Aliança e que favorece o Iniciativa Liberal, que surge como o único partido com essa matriz. O posicionamento natural e que se encontra na nossa matriz colocar-nos-ia num patamar mais liberal (próximo ao quadrado amarelo). As questões não permitem uma bateria de respostas mais amplas ou numéricas, de concordância ou discordância, o que seria mais exato. Neste domínio, qualquer posicionamento no quadrado amarelo remete para a Iniciativa Liberal”, sublinha Ferreira Costa. Por sua vez, o politólogo António Costa Pinto, investigador coordenador do Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa e professor convidado do ISCTE – Instituto Universitário de Lisboa, não detectou problemas de carácter técnico no inquérito: “Pelo que vejo, o posicionamento do quadro parece-me bem feito e congruente com os programas e manifestos eleitorais com partidos. Parece-me que bate tudo certo“. Atendendo à discrepância entre as perspectivas dos três politólogos, optamos pela classificação intermédia de impreciso. Avaliação do Polígrafo:
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